sexta-feira, 1 de março de 2013

A imunologia no programa Ciência sem Fronteiras


Em 2012 o governo federal lançou o programa Ciência sem Fronteiras (CsF) para promover um aumento expressivo das interações das comunidades educacional e científica brasileiras com as de outros países. Após um período de grande atividade na formação de pessoal no exterior nas décadas de 70 e 80 do século passado, o Brasil foi progressivamente reduzindo estas interações e se tornou bastante endogênico cientificamente. A redução na oferta de oportunidades para interação com outros países ainda era mais acentuada quando se considera a grande expansão da comunidade científica brasileira nas últimas décadas.

Vários indicadores demonstram que o Brasil apresenta uma baixa relação de doutores por habitantes em comparação com os países desenvolvidos. A figura ao lado mostra esta relação nos anos de 2002 (barras azuis) e em 2007 (barras verdes). É necessário, assim, expandir este número de forma acelerada e a formação no exterior é um dos mecanismos para tal.

Quando comparamos a produção científica do Brasil com a dos países dos BRICS vemos um quadro dramático nas engenharias e nas ciências naturais, veja a figura abaixo obtida do relatório UNESCO de 2010. Assim, o foco principal do programa são as engenharias e demais áreas tecnológicas. 


Em linhas gerais o CsF é composto de três grande seguimentos: a) bolsas de graduação no formato sanduíche; bolsas de Doutorado (completo ou sanduíche) e c) bolsas para atração de cientistas para o Brasil. 

As primeiras grandes chamadas para bolsas de graduação foram lançadas em dezembro de 2012 e em janeiro de 2014 (13 meses depois) o CNPq e a CAPES concederam 14.214 bolsas desta modalidade. Destas bolsas, 6.757 estão na área de engenharias e demais áreas tecnológicas e mais 963 em Ciências Exatas e da Terra. No CNPq, apenas 35 bolsas sanduíche na graduação estão classificadas como da área de imunologia. Este número baixo pode se dever apenas ao fato de não existirem cursos de graduação com a designação de imunologia.

Até janeiro de 2013, o CNPq e a CAPES haviam concedido 4.982 bolsas nas modalidade de Doutorado (pleno -GDE e sanduíche - SWE) e Pós-Doutorado no exterior (PDE). Destas bolsas, 1.545 são da área da saúde e biológicas. Considerando apenas os dados do CNPq podemos ver na tabela o desempenho da Imunologia nas categorias de Doutorado e Pós-Doutorado comparativamente aos outros programas da área.
Os números da Imunologia nas modalidades listadas são mais modestos que os da Genética e da Bioquímica, por exemplo. O que este quadro pode indicar? Menos jovens interessados na Imunologia em relação a Genética ou a Bioquímica? menos jovens da imunologia interessados em ir para o exterior?

A atração de pesquisadores do exterior (brasileiros ou não) para o Brasil é indicada nas colunas de bolsas de Pesquisador Visitante Especial (PVE) ou de Jovens Talentos (BJT). No caso da atração de pesquisadores senior o desempenho da Imuno é semelhante ao das modalidades anteriores, mas no caso dos jovens é muito baixo.

É só uma reflexão inicial mas pode indicar que a Imunologia brasileira não está muito conectada internacionalmente.



Um comentário:

  1. Prezado Professor Barral

    Talvez seja importante comparar esses dados com o número de Programas de Pós-Graduação (e suas respectivas vagas) em Genética, Bioquímica, Biotecnologia e Imunologia.

    Abraço

    Edson

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