quarta-feira, 13 de julho de 2011

Colocando em perspectiva a comercialização da inovação


Então, ocorreu em Washington DC de 27 a 30 de junho a Bio2011, a maior feira internacional de biotechnology businness, e, coisas do destino, a PUCRS me mandou nesse evento.
Foi muito interessante vivenciar esse momento em que a ciência deixa de vez o laboratório e chega na negociação com as big empresas. A feira tem sessões sobre os mais diversos assuntos, mas a gente passa o tempo inteiro conhecendo pessoas, conversando, trocando impressões. Serve pras grandes companhias basicamente sentirem firmeza ou não em você, seu Instituto, sua pequena empresa, seu país... E muita gente negociando, o tempo todo. Cerca de 20 mil pessoas estavam inscritas.
O governo brasileiro mostrou interesse no jogo, montando um estande gigante, que não deixou nada a dever pro da Italia ou da França – O Brasil foi o único país latinoamericano com participação marcante. Houve visitação intensa, assim como no da India e China. O Brasil ainda arranjou uma apresentação em que o Fortec, uma agremiação de gestores de inovação e transferência de tecnologia, e o Brbiotec, associação brasileira de biotecnologia, mostraram a um grupo de interessados uma espécie de mapa dos parques tecnológicos e centros de biotecnologia do país – concentrados em São Paulo, Minas, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul(!) – ói nóis. Estavam lá os grandes Insitutos brasileiros como Fiocruz, Butantã (Dr. Jorge Kalil), etc, e também o pessoal das pequenas e medias empresas de biotec.

Tava tudo muito bom mas eu fiquei pensando que não adianta, caro governo, apenas representar. A representação estava excelente, mas falta ainda o verdadeiro apoio para o cientista brasileiro inovar de maneira a atrair o tão desejado capital externo– os recursos, recursos pesados. Pegando emprestada uma fala do Doug Williams, VP executivo da Biogen, inovacão não se planeja – ela acontece porque a ciência está madura. E que outra forma de amadurecer a ciência em uma determinada area do que investir muito, gerar excelência, e deixar bons cientistas fazerem o que fazem de melhor.
E a propósito, o que é que fazemos de melhor no Brasil? Ainda semana passada meu amigo Roger Chammas lembrava bem que se vamos ser um país que quebra patentes – que eu apoiei e apoio naquele caso – temos de andar um bom caminho pra convencer investidores que querem patentes e lucro. Nós somos muito bons, acho eu, em desenvolver processos, mas a industria quer produtos. Vi muita procura por biocombustivel no estande do Brasil, mas fora isso, não sei.
Veja bem, nåo estou defendendo que tudo o que fazemos temos que patentear e visar lucro. Mas estou sempre atrås de recursos pro laboratório e tento entender o que eles querem pra ver se tem alguma intersecção.
Uma coisa que os nossos politicos podiam aprender com os governos de cidades do tipo Tampa na Florida, é que decidiram dar uma série de isenções e incentivos pra empresas e institutos fazerem medicina personalizada. Eles estão criando um pólo, vão colocar Tampa no mapa – daqui a alguns anos quando se falar em medicina personalizada, vai se falar Tampa. Este é um exemplo de criação direcionada de um pólo estabelecendo uma vocação pra uma cidade que antes não era conhecida por nada em especial.


Finalmente, desanimei um pouco com a falta de vontade da industria em patrocinar pesquisa básica. Mesmo eles admitindo que não dá pra inovar em lupus porque ninguem sabe o que é afinal, lupus – e isso vale pra outras doenças. Falei pra muita gente que eles bem podiam aplicar um dinheiro na academia, já que claramente ninguém tem recurso pra fazer toda a sua pesquisa básica sobre tudo.
Mas acho difícil a indústria investir na gente. Pena, porque passamos por tantos editais de prospecção, mas eles sempre querem tudo pronto, principalmente as indústrias brasileiras, falta a visão de parceria. O que reforça a idéia de que o nosso grande investidor precisa ser o governo brasileiro, neste momento. Já existe incentivo para formação de pequenas empresas de biotec, mas falta recurso pra pesquisa básica em saúde, acho eu, se queremos ser competitivos de verdade. Se os recursos forem garantidos, a inovação vem como bônus garantido. E com ela, os investidores de fora virão também.

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