Nesta
semana aconteceu o VIII ENIFARMED, o Encontro Nacional de Inovação em Fármacos
e Medicamentos, com a participação da Industria Farmacêutica Nacional e dos
Gestores do Governo, incluindo as agencias de fomento e BNDES. Alguns (poucos)
participantes da Universidade também se encontravam.
Ali
discutem-se e decidem-se políticas de inovação, investimento e incentivo a
desenvolvimento e fabricação de medicamentos. Hoje no Brasil todos os
medicamentos são derivados de adaptação de tecnologia estrangeira. Em 2003
houve um grande incentivo financiado principalmente pelo BNDES para a
fabricação de genéricos, em condições BPF (boas praticas de fabricação) aqui no
Brasil que em dez anos teve um grande resultado. Todo mundo chega hoje nas
farmácias e compra medicamentos genéricos bons, com preços acessíveis. Todos
esses medicamentos são baseados em drogas desenvolvidas for a do Brasil, e
portanto não agrega independência tecnológica para o pais.
Agora,
todos falam em biológicos e biossimilares, e vem ai uma onda de incentivo para
a fabricação destes. Como a patente da herceptina, o trastuzumab, cai daqui a
um ano, algumas industrias já estão trabalhando em adaptar a tecnologia para
produzir este monoclonal aqui, a um custo razoável, e disponibilizá-lo ao SUS.
Pergunto
até quando faremos isso? Hoje o
grande “boom” da indústria farmacêutica são os monoclonais para câncer,
principalmente os que fazem o chamado “checkpoint blockade”, interferem na
sinapse imunológica, bloqueando sinais inibitórios, como o anti-CTLA-4 ou
anti-PD1, agora também o anti-PDL-1. Outros medicamentos importantes são os
ADCs, anticorpos fusionados a drogas citotóxicas. Estas drogas são
ímpares na história do tratamento para o câncer por auxiliar em regressão de
metástases e por serem pan-oncológicos, uma vez que agem na resposta imune e
não em moléculas do tumor.
Estes medicamentos levaram mais de dez anos para serem desenvolvidos, e vieram – nós
imunologistas lembramos bem! – dos congressos de imunologia e de câncer que
assistimos no exterior. Nós somos imunologistas e temos hoje no Brasil uma
oportunidade única para mostrar nossa competência em desenvolver drogas como
essas. Como pesquisadores, precisamos nos comunicar com os órgãos financiadores
e demonstrar que temos interesse e competência para fazer isso no Brasil, se
formos financiados. Precisamos
encaminhar essa discussão desde a pos-graduação entre nossos estudantes pois
alguns terão vocação para o desenvolvimento de medicamentos. Temos que
atualizar a legislação. Temos que fazer barulho e mostrar a que viemos, ou
continuaremos perpetuamente produzindo genéricos 20 anos depois de assistirmos
as descobertas serem anunciadas na Science.
Nenhum comentário:
Postar um comentário