quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Até quando?


Nesta semana aconteceu o VIII ENIFARMED, o Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos, com a participação da Industria Farmacêutica Nacional e dos Gestores do Governo, incluindo as agencias de fomento e BNDES. Alguns (poucos) participantes da Universidade também se encontravam.

Ali discutem-se e decidem-se políticas de inovação, investimento e incentivo a desenvolvimento e fabricação de medicamentos. Hoje no Brasil todos os medicamentos são derivados de adaptação de tecnologia estrangeira. Em 2003 houve um grande incentivo financiado principalmente pelo BNDES para a fabricação de genéricos, em condições BPF (boas praticas de fabricação) aqui no Brasil que em dez anos teve um grande resultado. Todo mundo chega hoje nas farmácias e compra medicamentos genéricos bons, com preços acessíveis. Todos esses medicamentos são baseados em drogas desenvolvidas for a do Brasil, e portanto não agrega independência tecnológica para o pais.

Agora, todos falam em biológicos e biossimilares, e vem ai uma onda de incentivo para a fabricação destes. Como a patente da herceptina, o trastuzumab, cai daqui a um ano, algumas industrias já estão trabalhando em adaptar a tecnologia para produzir este monoclonal aqui, a um custo razoável, e disponibilizá-lo ao SUS.

Pergunto até quando faremos isso?  Hoje o grande “boom” da indústria farmacêutica são os monoclonais para câncer, principalmente os que fazem o chamado “checkpoint blockade”, interferem na sinapse imunológica, bloqueando sinais inibitórios, como o anti-CTLA-4 ou anti-PD1, agora também o anti-PDL-1. Outros medicamentos importantes são os ADCs, anticorpos fusionados a drogas citotóxicas. Estas drogas são ímpares na história do tratamento para o câncer por auxiliar em regressão de metástases e por serem pan-oncológicos, uma vez que agem na resposta imune e não em moléculas do tumor.

Estes medicamentos levaram mais de dez anos para serem desenvolvidos, e vieram – nós imunologistas lembramos bem! – dos congressos de imunologia e de câncer que assistimos no exterior. Nós somos imunologistas e temos hoje no Brasil uma oportunidade única para mostrar nossa competência em desenvolver drogas como essas. Como pesquisadores, precisamos nos comunicar com os órgãos financiadores e demonstrar que temos interesse e competência para fazer isso no Brasil, se formos financiados.  Precisamos encaminhar essa discussão desde a pos-graduação entre nossos estudantes pois alguns terão vocação para o desenvolvimento de medicamentos. Temos que atualizar a legislação. Temos que fazer barulho e mostrar a que viemos, ou continuaremos perpetuamente produzindo genéricos 20 anos depois de assistirmos as descobertas serem anunciadas na Science.

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