quarta-feira, 30 de julho de 2014

Vacinas em Leishmaniose Visceral: a corrida para o sucesso continua

Compreender a patogênese da infecção por leishmânia e a geração de respostas protetoras nos eventos imunológicos, em conjunto com o sequenciamento do genoma têm traçado novos caminhos para a pesquisa de vacinas na leishmaniose visceral. Contudo, apesar dos esforços, ainda não há um candidato capaz de proporcionar o nível de proteção necessária para um programa de eliminação da doença.
Nessa área, um progresso foi recentemente descrito em um estudo realizado por Guha et al., 2013 [http://stm.sciencemag.org/content/5/202/202ra121.short], utilizando uma vacina de DNA, cujo alvo foi o receptor de hemoglobina do parasito (HbR). Uma revisão publicada por Kumar & Engwerda, 2014 [http://www.nature.com/cti/journal/v3/n3/full/cti20144a.html] esclarece que esse receptor é expresso na superfície da célula do parasito, conservado em várias espécies de leishmânia, sendo importante para a endocitose do grupamento heme necessário para suas diversas atividades metabólicas, tornando-o dependente do hospedeiro. Guha et al., 2013, mostraram que a imunização com o HbR-DNA em BALB/c e hamsters induziu proteção quando desafiadas com L. donovani; e estimulou a produção de citocinas que conferem proteção (IFN-γ, IL-12 e TNF-α), com regulação negativa de IL-10 e IL-4 e geração de células T multifuncionais. Embora o estudo demonstre ser esta uma molécula promissora para vacinação em modelos animais, ainda existe um grande desafio em demonstrar segurança e eficácia em humanos tanto in vitro como em estudos clínicos.

Outra revisão de Gunnavaram et al., 2014 [http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4033241/], identifica estudos empregando antígenos recombinantes, com eficácia protetora na infecção por L. donovani em modelos experimentais.
Uma outra possível vacina mencionada num artigo de revisão em 2014 [http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4050426/] utilizando antígenos de proteína adaptado para a LV, a chamada vacinologia reversa, propõe identificar antígenos que induzam células T CD4 e CD8 relacionadas à proteção.
No entanto, observa-se discrepância entre os bons resultados obtidos em modelos animais e os estudos pré-clínicos in vitro no homem, incluindo a não geração de células T multifuncionais. Uma abordagem promissora no entendimento da resposta sistêmica induzida pelas vacinas candidatas e na seleção das mais promissoras, surge com a chamada “Systems Biology”. Esta nova abordagem traz a possibilidade de analisar em indivíduos com a forma assintomática da infecção por leishmânia e em pacientes curados de LV, de forma mais abrangente, as mudanças que ocorrem em resposta às moléculas candidatas. Assim, seria possível analisar diversos elementos da resposta imune inata, adaptativa, expressão de moléculas solúveis e celulares, utilizando múltiplas ferramentas tecnológicas que avaliam DNA, RNA e proteômica, combinada com análise de bioinformática, em uma abordagem multifuncional, a fim de identificar respostas-chave associadas à proteção no hospedeiro, como ressaltado na revisão de Gannavaram et. al., 2014 [http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4033241/].

Juciene Braz (mestranda), Amelia de Jesus e Roque Almeida


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