Tinha prometido pra João que ia cobrir o meeting de Innate Immunity que vim ver aqui na Grecia. O meeting foi em Olímpia, no Peloponeso. Sim, foi lá que começaram os jogos olímpicos. Quatro horas de ônibus de Atenas. Eu tive sorte que no avião encontrei meu amigo Phil Murphy, que tinha alugado um carro, e fizemos, sem saber um caminho pelo meio das montanhas. Era domingo e só vimos uns padres do barbão e umas cabras.
A Grécia é sempre ensolarada com mar azul turquesa. Já tive a sorte de ir a vários desses meetings. Mas tava cinza. Chovia e o lugar era muito longe do idílico. O que tinha muito lá era russo gordo com namorada magra. Não tinha começado ainda a temporada de verão, o que fazia o resort mais barato, acessível aos cientistas menos favorecidos, e aos tais Bórises e suas gatas.
Ir pra meeting tá ficando muito chato. Primeiro que o povo fala mal, segundo pela praga do jet lag. A única coisa boa é ver os amigos. O chato é a latumia de pouco funding. O sujeito no pódio mostra uns blots com 5 painéis e em cada um cinética com 10 pontos e mais dois gráficos. Impossível. O jet lag bate, a cabeça vira e eu fico pensando que diabo estou fazendo aqui. A editora do Nature Immunology estava sentada junto de mim. Ela prestava atenção em tudo. Até nesse talk impossível. Mas isso é o trabalho dela. O meu é dar meu talk, escrever pro blog, e catar algumas idéias pro meu trabalho. Outro slide, com resultados igualmente incompreensíveis. Ninguém saca o que se mostra. Os palestrantes fazem as pessoas da audiência trabalhar, e muito, muito. Só um ou dois vão aproveitar, talvez sejam os revisores. Mas, insisto, apesar da chatice, sempre se aprende. Vejam só o que aprendi dessa vez...
Um dia ou dois dentro do meeting escutei gente falando em português na mesa ao lado e fui lá conversar. Me disseram que eram de São Paulo. E que tinham vindo com os namorados. Conversa vai conversa vem e uma delas me pergunta: E o senhor é de onde, de Portugal? Pano rápido.
Acho realmente importante que o povo saia. Na minha época não tinha isso, sinal que estamos progredindo. Meu deus, sair com 20 anos pra ir pra Argentina e depois pra Alemanha, foi muito importante pra mim. E imagino que seja igualmente muito importante pra muitas outras pessoas. Vai transformar a vida delas. Então meu voto tem de ser de apoio pro negócio. Aqui algumas considerações. Primeiro, vamos mandar as pessoas com um mínimo de inglês. Segundo, pros esquemas sanduíches, um ano é pouquíssimo tempo. Não dá pra fazer nada quase. Do ponto de vista do aluno é ótimo, mas dos mentores não é, apesar de virem 80% pagos pelo Brasil. Aqui no meu lab quem veio teve de ser suplementado, porque não se dá visto com o que o Brasil paga (está abaixo da linha de pobreza). Então, devemos ter mais atenção e cuidado com a seleção dos candidatos, e dar um pouco mais de dinheiro pra eles.
Outra coisa. Mandar é importante, mas igualmente importante é receber de volta. Um dos melhores, senão o melhor talk da conferência foi dado por Bernardo Franklin, nosso colaborador aqui no blog. Ele arrasou. Primeiro falou bem, falou claro, num inglês perfeito. Bernardo está concluindo um postdoc em Bonn. Segundo, o assunto. Bernardo relatou a presença no meio extracelular de ASC, que continua capaz de processar a IL-1b. Macrófagos que fagocitam essas proteínas ficam ativados. Ou seja, ASC tem propriedades que se assemelham as dos príons. Caramba, carambola. Uma descoberta importante. Vai ser a capa do Nature Immunology de agosto. Como se diz lá na minha terra, deu gosto ver. Fiquei muito entusiasmado e fui conversar com ele depois. Ele quer voltar pro Brasil. Até agora não tem oferta. Isso, seu doutor, não tá certo. Tem mil gentes navegando o Ciência Sem Fronteiras pra fora do Brasil.
E o que se faz pra trazer de volta esses caboclos? É melhor alguém pensar rápido, porque senão ele, Bernardo, vira mais um cientista fora do país. Tem um programa aí pro pessoal mais velho, mas o meu argumento é que precisamos pensar com muito carinho (e ênfase) no pessoal mais novo. Vamos lutar por uma ciência sem fronteiras. E com resgate.
Como sempre, excelente post, Sergio.
ResponderExcluirCom relacao ao incentivo, no caso do Bernardo, o CNPq oferece Chamada Pública para bolsa Atração de Jovem Talento com o objeto de "Atrair e estimular a fixação, no Brasil, de jovens pesquisadores doutores residentes no exterior, preferencialmente brasileiros, que tenham destacada produção científica e tecnológica nas áreas prioritárias do Programa Ciência sem Fronteiras". Se ele pensa em voltar, a chance é boa.
Querida Monique, eu acho bolsa otimo, mas isso não funciona a longo prazo. Acho que o ideal seria criar mecanismos de incorporação das pessoas como cientistas nas universidades, sem uma carga didática sufocante, sem mil reuniões, com um bom dinheiro pra equipamento e contratação de postdocs e techs, como tem aqui. Não entendo como funcionam essas bolsas mas me parecem mais um postdoc melhorado. Se é o caso não da pra competir com as instituições estrangeiras, que oferecem o que descrevi acima. Bj
ExcluirOlá Sérgio,
ResponderExcluirMto obrigado. Fico mto feliz em saber q, apesar do meu nervosismo, consegui te passar a mensagem do meu talk.
Sobre a bolsa do ciencia sem fronteiras, Monique, o Sergio tem razao. Precisamos de algo mais solido. Afinal, bolsa nao da os beneficios (ferias, seguro saude, etc) q eu, q tenho familia, precisaria.
Um grande abraco