segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Anticorpos e balões: exemplo de uma sequencia didática para aprender sobre como os anticorpos funcionam

                                                                        Arte: João Carmo

“Quem pode me dizer o que é um anticorpo?”, pergunta um professor para seus estudantes  de uma série do ensino médio. “Professor, anticorpos são células”, responde um aluno com a aprovação silenciosa do resto da turma. “Anticorpo é sistema de defesa do corpo” responde o outro. Para quem é professor, principalmente no ensino médio, essas são uma das principais situações que estouram como milho de pipoca vindo dos alunos em uma aula quando se aborda algum tema relacionado ao sistema imune. Na certa, o primeiro sentimento que vem é de derrota total. Como se um aluno do ensino médio não conseguisse saber o que é uma proteína e o que é uma célula. Nesse caso em especial a associação é feita porque a grande maioria dos livros didáticos de biologia do ensino médio ainda trabalham precariamente a definição do sistema imune como um sistema de defesa e ainda associam essa defesa a produção de anticorpos, negligenciando outros componentes do sistema (Massabni & Arruda, 1999). Isso vira uma verdadeira salada na cabeça dos alunos e que muitas vezes chega até a sala de aula da universidade.  E aí você reflete que o trabalho do ano todo (as vezes de anos) tivesse sido em vão e a única vontade que dá é abrir um buraco no chão e enfiar a cabeça dentro como um avestruz para não ter que lidar com aquela situação. O melhor que se tem para fazer é não fugir e tentar entender como aquela associação chegou ali, em forma de afirmações, e encontrar maneiras que esses conceitos errôneos cristalizados possam ser solúveis e dar lugar aos certos.
Cabe a nós professores propor maneiras didáticas de ensinar imunologia para esclarecer alguns desses conceitos. Pensando em uma forma criativa e divertida de trabalhar a questão sobre anticorpo com alunos do ensino médio, David Scott publicou um artigo (link aqui: http://www.aai.org/Education/Resources/Scott_Using.html) com uma sequencia didática interessante para trabalhar os conceitos de anticorpo e antígeno para ser aplicada a estudantes do ensino básico. A proposta principal da aula é entender como os anticorpos funcionam. Previamente o professor(a), em aulas anteriores, explica a estrutura de anticorpo e o que é antígeno. Posteriormente, na sequência, grupos de estudantes calçam luvas de cor roxa, outro de cor preta e outro sem cor. Num dado momento todos alunos da classe levantam os braços para o alto simulando a estrutura em ‘Y’ da molécula de um anticorpo. Nesse momento o professor solta bolões, muitos, das mais diversas cores em direção as ‘moléculas de anticorpo’ que só podem prender os balões com suas cores respectivas. Com os balões (a simulação das moléculas de antígeno) presos às moléculas de anticorpo, vários conceitos podem ser trabalhados como de especificidade e afinidade. Com o continuar da atividade, outros conceitos podem ser trabalhos, como o de fagocitose (quando algum voluntário simula ser o fagócito), a ação do sistema do complemento (quando outro voluntário estoura os balões associados as ‘moléculas de anticorpos’).
No artigo não há resultados sobre a aplicação da sequência didática e qualquer outra avaliação sobre como essa sequencia foi recebida pelos alunos. O que seria interessante, pois há outro universo de dados vindo dessas interações que poderiam ser trabalhados para a prática pedagógica, como a formulação de argumentos pelos alunos nessa situação. Isso é história para um próximo post aqui. Entretanto acredito que trabalhar uma sequência didática como essa pode ser interessante, pois a imunologia oferece possibilidades de aulas com muitos dos princípios da biologia, da medicina, bem como da química. Os alunos são prontamente interessado neste campo, porque podemos discutir o conhecimento básico e associá-lo às curiosidades sobre vacinas e doenças infecciosas. Vários conceitos de imunologia podem ser ensinados em um exercício relativamente simples, envolvendo a participação ativa, motivadora numa atividade lúdica como essa. E vamos lembrar: essa pode ser uma atividade não só para os pequeninos, mas para os grandões da universidade também. Afinal aprender se divertindo faz parte de todas as etapas de formação.  


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Por Daniel Manzoni de Almeida

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