O Ritmo ou Ciclo Circadiano (do latim circa dian, que significa cerca de um
dia) é o período de aproximadamente 24h sobre o qual se baseia o ciclo biológico.
Muitos processos fisiológicos são regulados pelo ciclo circadiano, incluíndo a
temperatura corporal, a secreção de hormônios, o metabolismo, a homeostase da
glicose e a progressão do ciclo celular. Ainda é estimado que aproximadamente
10% de todo o genoma esteja sob o controle circadiano (1).
Entre os
fatores ambientais, a luz é o mais poderoso sincronizador dos ritmos circadianos
e tem seu efeito diretamente no relógio central, constituído pelo núcleo
supraquiasmático, no hipotálamo. Em mamíferos, a luz ativa um grupo específico
de fotoreceptores na retina que são conectados ao núcleo supraquiasmatico (relógio
central) que sincroniza os relógios circadianos periféricos via informações
neuronais, hormonais e metabólicas (2).
A nível molecular, os relógios circadianos são
controlados por “CLOCK GENES”. Os principais
clock genes que participam na manutenção do ritmo circadiano são o BMAL1, e o CLOCK, que heterodimerizados, promovem a transcrição de CCGs (Clock
controled Genes),
por ex: PER e
CRY. PER e CRY são
reguladores deste relógio e inibem a atividade transcricional de BMAL1 e CLOCK.
Essas interações, de feedback
negativo, geram as oscilações na trancrição e tradução destes genes em um
período de aproximadamente 24h (3). Esses genes também são expressos em
células imunes e há evidências de que clock
genes regulam, por exemplo: expressão de genes imunes como a expressão de
PRRs (TLR9) (4), a diferenciação de células Th17 (5) e a oscilação no tráfego de
leucócitos (6).
Embora a presença dos clock genes tenha sido demonstrada em células imunes inatas, o seu
papel na homeostase de monócitos ainda não tinha sido esclarecido. Nguyen et
al. (7)
descreveram uma oscilação diária em monócitos totais presentes em diferentes
tecidos de camundongos, demonstrando um aumento no número de monócitos durante
o tempo de descanso do animal (dia) e uma redução nestes números durante a fase
ativa (noite).
Os monócitos totais podem ser subdivididos em
inflamatórios (Ly6Chi) ou vigilantes (Ly6Clow). Nguyen et
al. (7)
demonstraram que a oscilação dos monócitos Ly6Chi era responsável
pela variação diurna dos monócitos totais . Este padrão cíclico do tráfego é
regulado pela atividade repressiva do gene circadiano BMAL1 expresso por células mieloides (Fig. 1), e conferiu proteção
contra a infecção por Listeria
monocytogenes. Neste trabalho ainda foi demonstrado que camundongos
nocautes de BMAL1 possuem uma
interrupção no ritmo de monócitos Ly6Chi, predispondo ao
desenvolvimento de patologias associadas com a inflamação aguda e crônica. Este
trabalho pode contribuir para um melhor entendimento dos mecanismos circadianos
que regulam a resposta inflamatória.
Figura 1. Ritmo circadiano de monócitos inflamatótios.
Sob o controle do gene circadiano BMAL1, monócitos "inflamatórios"
Ly6Chi apresentam oscilações diurnas no seu comportamento de tráfego.
No início da fase de repouso (durante o dia para um camundongo), a contagem de monócitos
Ly6Chi circulantes e teciduais é baixa e a expressão da citocina
próinflamatória CCL2 não é suprimida. Isto leva a um aumento no número de monócitos
Ly6Chi circulantes e teciduais durante a fase ativa do animal
(noite). No auge de sua sensibilidade imune a agentes infecciosos (início da
noite, quando o animal está ativo), o heterodímero CLOCK/BMAL1 liga-se à região
promotora do gene CCL2, contribuindo para a diminuição rítmica da produção desta
citocina via silenciamento epigenético do locus
da metiltransferase EZH2, contribuindo para a diminuição na contagem de
monócitos (8).
Post de Juliana
Kawahisa e Naiara Dejani (FMRP-USP/IBA)
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