Smith e colaboradores (2013) publicaram um trabalho muito
elegante na conceituada Science e
defenderam uma nova explicação para a geração de tolerância à microbiota
intestinal. Os autores propuseram que produtos derivados da
alimentação, metabolizados por bactérias comensais, seriam responsáveis pela
homeostasia no intestino diretamente por induzirem expansão e aumento da
capacidade supressora de células T reguladoras (Tregs) colônicas.
Tais produtos são obtidos a partir da fermentação de
polissacarídeos no cólon, compostos por 1-6 carbonos em sua estrutura e
chamados de ácidos graxos de cadeia curta (short-chain fatty acids, SCFAs). Os
SCFAs possuem receptores em células do sistema imune (GPR43, codificado
pelo gene Ffar2), com propriedades
anti-inflamatórias já descritas em macrófagos e células dendríticas.
De maneira simples, clara e direta, os autores
demonstraram que a ingestão de SCFAs é capaz de aumentar a frequência e
número de células T reguladoras produtoras de IL-10 presentes no cólon
intestinal. Como esperado, essa geração foi dependente de GPR43, que inibe a
expressão de enzimas envolvidas com controle epigenético, as histonas
desacetilases (HDCAs). A acetilação de histonas é relacionada com o relaxamento
da cromatina e maior exposição do DNA à ligação de fatores de transcrição. De
fato, o tratamento in vitro de Tregs
com SCFAs inibiu a expressão de duas desacetilases: a HDCA6 e a HDCA9, anteriormente relacionadas
com a função supressora dessas células, que realmente relacionou-se com a maior
acetilação das histonas. Por fim, células T reguladoras tratadas com SCFAs
expandiram melhor e foram mais eficientes na proteção em modelo experimental de
colite. Tal proteção não foi observada na deficiência específica de GPR43 nas
Tregs.
Dessa forma, a nova moda microbiota/sistema imune
ganha novos “apetrechos”: os metabólitos derivados das bactérias comensais. Microbiota
intestinal e metabólitos poderão ser utilizados como futuros moduladores
terapêuticos no tratamento e prevenção de doenças inflamatórias, em especial as
do trato gastrointestinal.
Gostei muito desse post e dos artigos de referência também.
ResponderExcluirExistem muitas formas da gente pensar em modular o que acontece no intestino. Esses SCFAs são um ótimo exemplo para trabalharmos né?
Pois é!! Quanto maior a complexidade, maior também serão os possíveis alvos terapêuticos na modulação da resposta imune.
ResponderExcluirO pessoal do grupo do Prof. Mauro Teixeira, em BH, já desenvolve trabalhos com os SCFAs há algum tempo .. são, inclusive, colaboradores de um trabalho muito bonito publicado na Nature em 2009.
Caso tenha interesse:
Maslowski et al., 2009 - Regulation of inflammatory responses by gut
microbiota and chemoattractant receptor GPR43
Abraços e obrigado pelo cometário,