Em um domingão como hoje, uma
carne vermelha suculenta na brasa daria água na boca de muita gente. Não é
novidade que o alto consumo de carne vermelha associa-se com o risco de
desenvolvimento de doenças cardiovasculares (CVD) em decorrência da grande
quantidade de gorduras saturadas e colesterol que ela apresenta. No entanto, o
que não se sabia é que a sua própria microbiota intestinal é que desencadeia os
malefícios do consumo da carne vermelha.
Já faz um bom tempo que a
microbiota deixou de ser vista apenas por estar relacionada à saúde intestinal,
função imune e bioativação de nutrientes e vitaminas. Recentemente, Koeth e
colaboradores (aqui) mostraram que existe uma associação entre o metabolismo da dieta pela
microbiota e a patogênese de CVD. O trabalho mostra claramente que a
L-carnitina, uma amina presente na carne vermelha, é metabolizada pela
microbiota gerando trimetilamina (TMA) e trimetilamina-N-óxido (TMAO), produtos
conhecidamente pró-aterogênicos.
Os hábitos alimentares de
onívoros/carnívoros e vegetarianos/veganos estão associados a alterações na
composição da microbiota intestinal. O hábito de comer rotineiramente carne
vermelha promove a colonização do intestino preferencialmente por bactérias do
gênero Prevotella, enquanto que a
microbiota de vegetarianos é constituída primordialmente por Bacteroides. O mais interessante é que a
microbiota de vegetarianos ou veganos que pontualmente consumem carne não induz
formação de TMAO.
Mas como associar a presença do
TMAO com a indução da aterosclerose? O grupo mostra que a suplementação da
dieta com L-carnitina diminui os níveis de HDL (Transportador reverso de
colesterol) e aumenta os de LDL/VLDL (Transportador direto de colesterol).
Ainda, o TMAO é capaz de induzir a expressão de transportadores de colesterol
nos macrófagos, o que facilita a captura de colesterol e o acúmulo dessas
células nas paredes dos vasos sanguíneos.
Outro experimento interessante
mostra que animais submetidos a uma dieta rica em L-carnitina formam placa de
ateroma, o que não acontece quando a microbiota é removida.
É, meu amigo! Se você quiser
comer aquele churrasquinho no final de semana, não esqueça de remover sua
microbiota com antibióticos de amplo espectro. Se bem que falam as más línguas
que o consumo de cerveja interrompe o efeito de medicamentos. E agora? Vale
mais aquela carninha na brasa ou aquela cervejinha gelada?
P.S.: Obviamente o consumo de antibióticos para a remoção da microbiota é
apenas uma brincadeira e não deve ser levado a sério.
Post de Maria do Carmo, Maria Cláudia da Silva e Tiago Medina,
FMRP-USP/IBA.
Muito bom esse post, interessante e informativo.
ResponderExcluirParabéns meninos!
joao