Modelo de reatividade cruzada anti-PAD3/PAD4. (A)
Região de PAD4 que contém o epitopo cruzado PAD3/PAD4. (B) Representação da
superfície de PAD ilustrando o resíduo acessível para ligação do
auto-anticorpo. Fonte: Darrah et al., 2013.
Peptidilarginina deaminases (PADs) desempenham
um papel fundamental na geração de auto-antígenos na artrite reumatóide (AR),
mas os mecanismos associados à sua desregulação nesta doença permanecem ainda pouco conhecidos. Embora PADs requeiram concentrações suprafisiológicas de cálcio
para a atividade in vitro, as enzimas são ativas in vivo, como por exemplo, no
fluido sinovial de pacientes com AR, em que as concentrações de cálcio são
muito mais baixas.
Pesquisadores da Universidade Johns Hopkins
(Baltimore, MD, EUA) identificaram um subconjunto de anticorpos contra a
peptidilarginina deaminase 4 (PAD4) - identificados pela sua reatividade
cruzada com PAD3, que aumentam significativamente a eficiência catalítica da
PAD4, diminuindo a exigência da enzima para o cálcio dentro do intervalo
fisiológico. Esses anticorpos estão presentes em amostras de sangue de indivíduos
com inflamação agressiva e danos do tecido conjuntivo desencadeados pela AR.
O trabalho foi publicado recentemente na
revista Science Translation Medicine e avaliou soros obtidos de 36 controles
saudáveis, 30 pacientes com artrite psoriática, e 44 pacientes com AR a
partir de uma amostra de conveniência de 194 pacientes de um estudo de coorte
longitudinal. Vários métodos foram utilizados para caracterizar os anticorpos,
incluindo Western blot, imunoprecipitação, imunotransferência e depleção de
anticorpos, dentre outros.
Os pesquisadores descobriram que os anticorpos
aumentaram em grande parte a função de PAD4 em níveis baixos de cálcio,
condição normalmente presente nas células humanas. Os resultados mostraram que
a atividade de PAD4 era 500 vezes maior na presença de anticorpos do que em sua ausência. Os anticorpos estavam presentes em 18% das 44 amostras de
fluido sinovial a partir de uma determinado grupo de amostras e em 12% em um outro
grupo de 194 amostras, mas apenas em pessoas com artrite reumatoide grave.
Em um estudo de acompanhamento de pacientes,
80% daqueles que apresentavam anticorpos tiveram uma piora do quadro clínico em
relação ao ano anterior, ao passo que apenas 53% sem o anticorpo apresentaram
progressão da doença. Ao comparar os valores médios das articulações
danificadas pela doença, os pesquisadores demonstraram que pacientes que tinham
anticorpos tiveram uma deterioração média nos ossos e articulações com
pontuação de 49, enquanto que aqueles que não tinham anticorpos tiveram uma pontuação
bem inferior, de 7,5, indicando uma doença muito mais branda.
A identificação precoce de um subgrupo de
pacientes com artrite reumatoide grave poderia beneficiar seu tratamento, uma vez
que estes pacientes poderiam iniciar a terapia com medicação mais agressiva imediatamente e procurar a opção de tratamento mais eficaz. Dessa forma, os autores do estudo identificaram identificaram um anticorpo marcador que está associado com AR mais erosiva e que aumenta de forma significativa a função de uma enzima chave
patogênica (PAD4), sob condições fisiológicas. Estes anticorpos com reatividade
cruzada, podem consequentemente, identificar pacientes com AR onde a inibição
de PAD seria particularmente benéfica terapeuticamente.
Referência
Darrah E; Giles JT; Ols ML; Bull HG; Andrade F; Rosen A.
Erosive Rheumatoid Arthritis Is Associated with Antibodies That Activate PAD4
by Increasing Calcium Sensitivity. Sci. Transl. Med. 5, 186ra65 (2013).
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