domingo, 26 de maio de 2013

Journal club IBA: Succinato é um sinal inflamatório: a influência do metabolismo na imunologia






        Tannahill e colaboradores publicaram em março desse ano na nature um artigo que faz com que os imunologistas abram os olhos para tentar relacionar o metabolismo celular com a resposta desencadeada pelo LPS. Não é novidade que a ativação do TLR-4 em células apresentadoras de antígeno (APCs), faz com que ela não só produza citocinas pró-inflamatórias, mas também passe a utilizar principalmente a glicólise como fonte de energia, diminuindo drasticamente o consumo de oxigênio, mesmo que este esteja disponível no meio. De uma maneia muito interessante o trabalho mostra a importância de produtos do metabolismo celular, como o succinato, na resposta a lipopolissarídeos (LPS) e a produção de IL-1beta.
             Há alguns anos foi demonstrado que após ativação por LPS, macrófagos apresentam aumento de uma proteína importante para que a glicólise ocorra, o Fator 1alpha induzido por hipóxia (HIF-1alpha) (Blouin, C.C et al., 2004). E já se sabia também que tal proteína era essencial para produção de citocinas pró-inflamatórias após a indução de sepse por LPS (Peyssonnaux, C. et al., 2007). Porém, essa via, bastante incomum para os imunologistas, envolve mais proteínas do que a ativação de TLR levando a expressão de HIF-1alpha e o aumento da produção de IL-1beta.
       A grande “sacada” do trabalho foi a descoberta de que a ativação por LPS em macrófagos provoca aumento do succinato por duas vias alternativas, a entrada e a degradação da glutamina e do neurotransmissor GABA na mitocôndria. O succinato em excesso faz com que HIF-1alpha seja superexpressa por inibição da proteína prolil hidroxilase (PHD), responsável pela sua degradação, e assim o HIF-1alpha atua como fator de transcrição não só para enzimas responsáveis pela glicólise, mas também da citocina IL-1beta. Um trabalho bastante interessante que fez com que muitos imunologistas precisassem retirar o livro de bioquímica do armário.

Post de Maria Cláudia da Silva e Marcel Trevisani (FMRP-IBA)

Um comentário:

  1. É interessante ver a interação entre o metabolismo e o sistema imune. No caso do trabalho citado o acúmulo de succinato atua como um sinal de perigo proveniente da mitocôndria, enquanto a glicose disponível está sendo utilizada, predominantemente, mas não exclusivamente, na via das pentoses para eliminar os patógenos.
    Um trabalho muito bom, pois afinal de contas a complexidade dos organismos não seria possível sem o metabolismo, de onde conseguimos energia, e o sistema imune que nos protege dos invasores.

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