domingo, 24 de fevereiro de 2013

Microglia tem origem em células eritromielóides do saco vitelínico embrional


       A origem da microglia provavelmente é um dos assuntos mais controversos na neurociência. Inicialmente, acreditava-se que a microglia se originava de macrófagos localizados na meninge que penetram no encéfalo e na medula durante os últimos estágios do desenvolvimento embrionário (Rio-Hortega, 1919). Porém, apesar da microglia e os macrófagos possuírem os mesmos marcadores, parece que eles apresentam morfologia e origem distintas (Perry et al., 1985; Gordon et al., 1992; Ling e Wong, 1993; Kurz e Christ, 1998; Cuadros et al., 1993). Aparentemente, essa controvérsia terminou quando se mostrou que a microglia provém de progenitores localizados no saco vitelínico, migrando para ao encéfalo e medula espinal (Alliot et al., 1998; Ginhoux et al., 2010; Kaur et al., 2001). Schulz et al. (2012) mostraram que os precursores localizados no saco vitelínico expressam o receptor para M-CSF. Porém, posteriormente, verificou-se que esses progenitores eram as células CX3CR1+ já comprometidas (macrófagos imaturos). É aí que a história começa a ficar interessante.

          Os autores analisaram células progenitoras do saco vitelínico do 8° dia pós-concepção (DPC) com potencialidade para gerar macrófagos. Três populações CX3CR1- foram encontradas: CD45+ c-kit, CD45 c-kit+ and CD45 c-kit. No 8°  DPC, somente as células CD45 c-kit+ podem dar origem a macrófagos CX3CR1+ CD45+. Para confirmar esse dado, os autores transferiram essas células para culturas de hipocampo livres de microglia. Após 12 dias da transferência foi encontrada a expressão de Iba-1 e CX3CR1-GFP somente em células CD45+ c-kit-/low (que antes eram eritromielóides CD45- c-kit+). Os autores postularam que existe uma expressão transitória de CD45 e c-kit ao longo da diferenciação e migração de progenitores para microglia (Figura 1).
          


       Em resumo, o artigo sugere que a microglia se desenvolve e prolifera a partir de precursores eritromielóides via ativação de Pu.1 e Irf8, transformando-os em macrófagos imaturos. O desenvolvimento de macrófagos imaturos para maduros e consequentemente para a microglia se dá por meio da sinalização por MMP8/9 (Kierdorf et al. 2013).
           E ficamos com a pergunta: a partir de qual momento do desenvolvimento podemos ter uma diferença real entre as células do sistema imune e do sistema neural? O que realmente vai diferenciar o desenvolvimento de um tipo celular em outro: a localização ou o isolamento de um determinado órgão (nesse caso, a barreira hematoencefálica) que impede a migração e consequente sinalização exclusiva daquele órgão isolado, desviando o desenvolvimento para outro tipo celular?
           Pois é, às vezes me divirto mais com as perguntas do que com as respostas.

Post de Gabriel Bassi. FMRP/IBA

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