quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Um verdadeiro baile de máscaras



Quase sempre falamos de Imunidade focando apenas no hospedeiro, porém às vezes, esquecemos dos mecanismos de virulência de muitos parasitos. Recentemente li na revista da FAPESP uma vibrante matéria que relatava sobre a “esperteza” do Trypanosoma cruzi. Esse intrigante parasito é capaz de secretar pequenas vesículas (20 a 80 nm) cheias de proteínas que facilitam a invasão de células do hospedeiro. Em uma analogia seria o T. cruzi em um baile de máscaras soltando confetes e cantando: “Oh abre alas que eu quero passar”.

Estudos na tentativa de entender a função desses componentes demonstraram que as cepas mais virulentas secretam números maiores de vesículas, as quais facilitam a invasão das células cardíacas e antecipam a morte dos animais. Nesse contexto, em uma cultura celular, com a adição dessas vesículas o parasito invade muito mais rápido e eficientemente um macrófago ou célula epitelial. O processo de fusão vesícula-célula do hospedeiro é extremamente rápido, levando cerca de 15 minutos.

Com os avanços da proteômica foi possível identificar alguns componentes presentes nessas misteriosas vesículas, dentre eles a transialidase, a qual transfere resíduos de ácido sialíco da célula do hospedeiro para a superfície do parasito. Nesse baile de máscaras podemos dizer que a transialidase estaria fantasiado de Robin Hood (famoso ladrão). Essa enzima vale uma maior atenção, uma vez que tem sido associada com vários fenômenos incluindo, apoptose de células do sistema imune, modulação da imunidade inata e depleção de plaquetas.

As vesículas liberadas pelo o T. cruzi foram descobertas há 20 anos atrás, porém somente hoje vêm chamando a atenção da comunidade científica, uma vez que nos últimos 5 anos cerca de 3500 artigos tentam explicar o fenômeno, dar nomes, decifrar origem e etc. Vale ressaltar que nesse baile de máscaras não é somente o T. cruzi o grande convidado, a Leishmania e o Trypanosoma brucei também foram vistos nesse baile liberando suas misteriosas vesículas. As vesículas liberadas por esses parasitos patogênicos são importantes fatores de virulência que precisam ser melhor analisadas para ampliar as perspectivas de prognóstico e tratamentos dessas doenças.
 

Post de Grace Kelly da Silva (IBA-FMRP).

Referências:
- Torrecilhas AC, Schumacher RI, Alves MJ, Colli W.Vesicles as carriers of virulence factors in parasitic protozoan diseases. Microbes Infect.2012 Aug 2.
- Revista FAPESP 200, Outubro de 2012.

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