Nos
últimos anos o interesse pelos efeitos da microbiota no sistema imune tem
aumentado significantemente. Diversos artigos demonstraram que uma desregulação
e alteração da microbiota intestinal influenciam negativamente ou positivamente
em diversos aspectos da imunidade. Um artigo publicado em 2010 demonstrou que
moléculas de peptideoglicanos provenientes da microbiota primam neutrófilos na
medula óssea participando do desenvolvimento do sistema imune. Por outro lado,
uma desregulação da microbiota agrava quadros de obesidade, síndrome metabólica
e resistência à insulina. Dessa forma, já está bem descrito que a microbiota
intestinal regula a resposta imunológica de forma local e também de forma
sistêmica em outros órgãos.
Assim,
como a mucosa intestinal, a pele também é coberta pela sua própria microbiota. Desde
que nascemos, herdamos da nossa mãe as primeiras bactérias por transferência
vaginal ou mesmo após o parto cesariano. Apesar de convivermos com esses seres
microscópicos recobrindo nosso corpo desde o nascimento, os efeitos dessa
microbiota simbionte da pele em nossa saúde ainda não é bem esclarecida. Diante
das evidências, algumas das questões relevantes nesse contexto seriam:
Apenas a microbiota da pele é capaz de regular a
resposta imune local?
Num modelo de infecção na pele, a presença da
microbiota local é eficiente em alterar os processos inflamatórios e a
multiplicação do parasita?
E por fim, quais os mecanismos envolvidos na modulação
da resposta imune da pele pela microbiota?
De maneira elegante o artigo
publicado pela Science do grupo de
Yasmine Belkaid em agosto de 2012 demonstrou com estudos comparativos entre
camundongos SPF (Specific pathogen free) e GF (germ free) que não houve
associação entre a microbiota intestinal e a microbiota presente na pele. A
indução do sistema imunológico por estes distintos nichos compartimentalizados
deflagrou uma resposta diferente na produção de citocinas por células T em cada
compartimento. Adicionalmente, houve um aumento na produção de IFN-γ e IL-17A
em animais SPF que tinham a presença da microbiota na pele. De forma distinta,
os animais GF tiveram o aumento da presença de células T reguladoras.
Relatado ainda no artigo, quando
foi induzido um quadro infeccioso por Leishmania
major os camundongos SPF obtiveram uma lesão tecidual acompanhada de edema,
contudo um menor número de parasitos comparado com os animais GF. Quando os
animais GF eram monoassociados com S.
epidermides presentes na microbiota normal da pele, a lesão característica
da infecção por leishmania e o quadro inflamatório com produção de citocinas
IFN-γ e IL-17A eram restaurados. Neste mesmo artigo, foi visto que a produção
destas citocinas pelas células T da pele é dependente principalmente da IL-1α,
mas não de IL-23 nem IL-6 ou mesmo de receptores do tipo toll da forma que é induzida no intestino. Assim sendo, a
microbiota da pele induz a produção de IL-1 e ativam células T a produzirem
citocinas inflamatórias que auxiliam no combate a patógenos (Figura).
Este foi o primeiro artigo
demonstrando o papel da microbiota da pele na indução da resposta imunológica
compartimentalizada. Estes resultados abrem novas perspectivas e questões para
o entendimento da interação do sistema imune com a microbiota.
Adaptado de Goldszmid,
2012.
Referências
Goldszmid, S Romina & Trinchieri, Giorgio. The price of immunity. Nature immunology, Vol. 16, Oct, 2012.
Naik, Shruti, et al. Compartmentalized Control of Skin Immunity
by Resident Commensals. Science,
Vol. 337, Aug 2012.
Post de Éverton Padilha e Jonilson Berlink Lima
Boa noite, gostaria que vcs me indicassem um artigo que fale sobre: bacterias comensais que regulam a homeostase intestinal e regula a função das celulas epiteliais intestinais...
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