Quando eu
era garota aprendíamos nas aulas de ciências que as células dos tecidos estavam
terminalmente diferenciadas, por exemplo, uma célula da pele não poderia gerar
um novo individuo. Na semana
passada, um grupo japonês reportou a geração de bebês camundongos a partir de
células da pele. O método utilizado era inspirado num artigo da Cell de 2007,
de Shinya Yamanaka, outro cientista japonês. Naquele artigo, Yamanaka e colegas
mostravam que com apenas quatro fatores de transcrição (Oct3/4, Sox2,
Klf4, e c-Myc) introduzidos por retrovirus, podiam gerar células tronco
pluripotentes a partir de fibroblastos humanos.
Hoje de
manhã Yamanaka tornou-se o ganhador do Nobel de Medicina deste ano, dividindo o
premio com John Gurdon, um britânico que foi pioneiro nas tecnologias de
transferência de núcleos entre as células. Gurdon fez isso em 1967, ano em que
Yamanaka nasceu. Da mesma
tecnologia que Gurdon estabeleceu, derivou-se a ovelha Dolly, deu tempo de
nascer e crescer o cientista que mostrou que podia ser ainda mais simples que
transferir núcleos, e mudando as
aulas de ciências de todos os meninos e meninas para sempre.
A maneira
como estudamos doenças também mudou pra sempre, pois hoje podemos recriar a
doença na plaquinha de cultura, e pensar em testar drogas sem envolver animais.
Na
imunologia isso é hoje também um
ponto crucial de estudo– por exemplo temos falado muito em plasticidade de
linfocitos T e da diferenciação das T helper que antes parecia terminal. Nos
debruçamos ávidos sobre os milhões de dados que os arrays genéticos nos
fornecem sem ainda poder entender completamente toda essa informação. Embora
muitos questionem os fatos, embora se discuta ainda se isso acontece in vivo,
no meio do tumor ou durante uma infecção, sem duvida, tem alguma coisa
importante acontecendo ali que não devemos ignorar ao trabalhar em nossos
modelos.
Plasticidade.
Mais que uma palavra, uma tendência mundial, para esse mundo que muda tão
rápido – até o Nobel mudou, lembram, não teve como voltar atrás do premio
póstumo do Steinman ano passado.
Que seja mais uma inspiração pra o nosso dia a dia, que a gente tenha em
mente que, para nos diferenciarmos, precisamos, entre outras coisas, manter flexibilidade
suficiente para compreensão e adaptação a novos cenários, e quem sabe,
reprogramar um pouco as idéias.
Takahashi et al., Cell 131,
861–872, November 30, 2007
Gurdon et al., PNAS September 30, 2003 vol. 100 suppl. 1 ;11819–11822
Well done, Cris!!
ResponderExcluirSem dúvida uma descoberta que ampliou e reforço o campo das células-tronco. Apenas fico receoso quando a utilidade prática desta técnica para modelos não experimentais, quando a segurança e eficiência.
ResponderExcluirE normalmente estamos acostumados com descobertas ganhadoras do Nobel que já são consagradas em seu campo de estudo.
Acho que a imunologia tem muito a progredir através deste prisma. Aprendamos com eles.
Excelente post.
ResponderExcluirTava precisando ouvir algo assim, motivador.
Parabéns mais uma vez Cris.
valeu meninos. rafael, acho que o premio é uma mensagem de incentivo a esse tipo de trabalho, como foi quando o obama ganhou o da paz. bernardo, que bom que ajudou - esse nosso dia a dia é complicado, we need all the motivation we can muster. bjs
ResponderExcluirParabéns pelo post. Sem dúvida, a plasticidade é um dos temas que mais eu gosto. Sem dúvida alguma acho que os papers de hoje mostram que na Biologia, principalmente na Imunologia, os fenômenos não são tao estáticos e os nossos resultados muitas vezes mostram isso.
ResponderExcluirCris, Parabéns pelo post. Às vezes me parece que o sistema imune não funciona para defesa ou reconhecimento, mas para adaptação. Nisso, a plasticidade tem um papel importante.
ResponderExcluirSobre as coisas que mudam no Nobel, terá algum dia cabimento para mais de 3 ganhadores? Isso levando em conta que a ciência torna-se cada vez mais ampla e as grandes descobertas tendem a ser a somatória de muitas contribuições pequenas.
http://goo.gl/plNSU.