A
gravidez é um evento único, o feto geneticamente e imunologicamente estranho,
geralmente sobrevive a termo, sem rejeição aparente pelo sistema imunológico da
mãe. Como foi dito por Medawar em 1952 – e suas observações ainda são
verdadeiras hoje em dia, durante a gravidez, o sistema imunológico tem duas
funções vitais: proteger a mãe contra infecções e tolerar o feto
semi-alogênico.
Desde o
primeiro contato do espermatozóide com a mucosa vaginal observam-se sinais da
resposta imune. Ocorre a comunicação de linfócitos presentes na superfície da
mucosa e àqueles do espaço subendotelial. Os linfócitos podem ser ativados por
antígenos apresentados por macrófagos, no endométrio e endocervix e células de
Langerhans na vagina e ectocevix. Porém
algumas substâncias contidas no sêmen possuem ação imunossupressora, o que pode
contribuir para que a resposta local seja pequena. Além desta característica do ejaculado, foi
verificado experimentalmente que, momentos antes da ovulação há uma eficiência
diminuída na apresentação de antígenos, o que demonstra uma preparação para o
recebimento do embrião.
Crítico
na sobrevivência do feto está o papel da placenta, ou especificamente, as
células do trofoblasto. Há importantes componentes imunológicos dessas células
para garantir a sobrevivência do feto, evitando a rejeição pelo sistema imunológico
da mãe e escapando de infecções. Estas características incluem alterações no
fenótipo do complexo de histocompatibilidade principal (MHC), mudança no padrão
Th1/Th2, predominância de células natural killer uterinas (uNK) e outras
respostas imunes.
Muitos
dos sinais iniciais que envolvem a manutenção da gravidez são derivados de
populações celulares que infiltram a decídua e a mais abundante é formada por
células uNK. Estas células mantêm a integridade da decídua e participam da
remodelação da artéria uterina espiral e foi recentemente demonstrado que o
recrutamento normal destas células bem como suas propriedades funcionais são
dependentes de sinais derivados de células dendríticas (DCs). O fato que a
depleção de DC no modelo murino provocou falhas na implantação do zigoto devido
a má formação da decídua e da vascularização local, sugere que as DCs constituem
uma população celular chave que determina o sucesso da gravidez.
Desta
forma, o diálogo de cooperação entre DCs e uNK que auxilia cada uma delas a se
tornarem maduras e funcionais, é observado na decídua durante a gravidez murina
e humana. Esta conversa parece ser muito importante para restringir a ativação
de DC e das NK no útero e desta forma manter suas funções celulares compatíveis
com o sucesso da gravidez.
O
artigo de González e colaboradores [1] mostra que as uNK são importantes na
modulação das funções imunogênicas de DC compatíveis com o sucesso da gravidez.
Utilizando diferentes estratégias (depleção e expansão celular) para manipular
a freqüência de uNK e DC durante a gestação no modelo murino, os autores
demonstram de maneira elegante o papel chave das uNK sobre irregularidades
causadas pela expansão e super-atividade das DCs na decídua, contribuindo para
uma progressão normal da gravidez. Os principais resultados encontrados pelo
grupo de pesquisadores acima citado são os seguintes: 1) a depleção combinada
de DC e NK afeta de maneira drástica a decidualização o que inviabiliza a
gravidez; 2) células NK exercem funções chave para a manutenção da gestação durante
a fase de expansão das DCs; 3) a depleção de NK e expansão das DCs estão
associadas com aumento na expressão de genes envolvidos com a ativação
imunológica e inflamação.
Boa
leitura!
Referência
[1] González IT,
Barrientos G, Freitag N, Otto T, Thijssen VL, Moschansky P, von Kwiatkowski P,
Klapp BF, Winterhager E, Bauersachs S, Blois SM. Uterine NK
Cells Are Critical in Shaping DC Immunogenic Functions Compatible with
Pregnancy Progression. PLoS One. 2012; 7(10): e46755. doi:
10.1371/journal.pone.0046755.
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