Se
eu fizer essa pergunta acima para nossos amigos imunologistas leitores do blog,
certamente e de forma geral, a maioria irá responder "É porque o corpo não
entrou em contato com o patógeno antes!" ou "A resposta imune que
ainda não está madura e preparada!" SIM, é exatamente por esses fatores.
Mas, qual parte da resposta imune (inata/adaptativa) ou quais células
(dendríticas - DCs, natural killer - NK, macrófagos, linfócitos T, B, etc) são
imaturas deixando as crianças mais propensas as infecções? Muitos fatores são
descritos, mas outra parte dessa pergunta foi esclarecida em um trabalho
publicado no mês passado na Nature Immunology (Marcoe, J.P et
al., 2012) que mostrou que células NK, durante a infância, são impedidas de
se desenvolverem nos estágios finais de maturação por causa do sinalização via
TGF-β, e assim não desenvolvem suas importantes funções citotóxicas no combate
a vírus.
A
maturação de células NK, de forma geral, ocorre na medula óssea. Porém, essa
maturação já foi demonstrada em outros órgãos como baço e fígado.
Didaticamente, em camundongos existem três eventos principais de maturação, que
envolve 6 estágios: 1º) Comprometimento de células tronco hematopoiéticas com a
linhagem de células NK (estágio A); 2º) Maturação funcional e fenotípica das
células NK (estágios B-E) e; 3º) Homeostase de células NK periféricas (estágio
F). Cada um desses estágios é caracterizado pela expressão de moléculas de
superfície e fatores de transcrição que controlam a maturação e função das
células NK. Esses fatores são descritos no seguinte review (Santo,
J.P. 2006). Rapidamente, células NK maduras são caracterizadas por
expressar DX5 e NK1.1, enquanto no final da maturação (estágio F) são melhor
caracterizadas pela expressão de CD11b e CD43.
Importantes também para o desenvolvimento de células NK são os fatores
de transcrição Gata-3 e T-bet, essenciais para expressão de CD43, CD11b e de
IFN-γ por essas células.
Com
o propósito de investigar se a sinalização de TGF-β interfere na maturação de
células NK, uma prévia publicação na Nature
Immunology por Laouar et al. (2005) demonstrou que TGF-β
limita o número de células NK maduras in vivo.
Nesse trabalho, uma consequência da falta de sinalização de TGF-β nas células
inatas foi demonstrada utilizando animais transgênicos expressando uma forma
dominante negativa do receptor II do TGF-β, sob o controle do promotor de CD11c
(CD11cdnr). Nesses animais todas as células CD11c, incluindo DCs e NK,
não sinalizam via TGF-β. Como consequência, nos animais CD11cdnr houve aumento
significativo no número de NK maduras na periferia (baço, fígado e sangue) (5 a
10 vezes mais), sendo que o número de DCs, células T e células B não foram
alterados.
Utilizando
o mesmo animal transgênico, o recente trabalho publicado na Nature Immunology (Marcoe, J.P et al., 2012), investigou durante a
ontogenia as células NK de animais CD11cdnr e WT se a sinalização de TGF-β seria um fator
responsável pela imaturidade dessas células e consequentemente aumentada susceptibilidade
a infecções durante a infância. O trabalho demonstrou que os animais CD11cdnr
apresentaram rápida maturação de células NK que prevaleceram no estágio final
de maturação (conhecido como estágio F), sendo a quantidade das células NK
maduras (no estágio F) no animal CD11cdnr na infância (10-19 dias de
idade) equivalentes as do animal WT adulto (56 dias).
Apesar
das especulações, na verdade não se sabe a exata fonte de TGF-β durante a
ontogenia, mas um mecanismo que poderia ser associado é a atividade aumentada de
células T reguladoras durante a infância as quais poderiam, por meio da
produção de TGF-β, favorecer a imaturidade das células NK, aumentando a
susceptibilidade a infecções durante os estágios iniciais da vida.
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