Vários trabalhos recentes na literatura
têm abordado o tema de imunidade das mucosas, verificando a influência da
microbiota na indução da resposta imune adaptativa. Este tema foi também
abordado recentemente no SBlogI (Journal Club IBA - Desnutrição,
Ecologia da Microbiota e Inflamação Intestinal). Resolvi
continuar neste assunto fascinante e observo que no mês de outubro de 2012,
mais artigos sobre este assunto foram publicados, na forma de revisão ou
originais. Assim no Nature Immunology Reviews, (OCTOBER 2012 | VOLUME 12 www.nature.com/reviews/immunol
), Marc Veldhoen and Verena Brucklacher‑Waldertn, Laboratory for Lymphocyte Signalling and
Development, The Babraham Institute, Cambridge, UK, discutem recentes
achados que mostram a ligação entre os componentes da dieta e a organização e
manutenção dos tecidos imunes e linfócitos no intestino, onde enfatizam
principalmente o papel dos receptores nucleares. Estes são definidos como alvos
de diferentes compostos, como hormônios, lipídios e vitaminas. Interagem com
substâncias da dieta, portanto, realizando a ligação entre dieta e imunidade
Em agosto de
2012, no Current Opinion In Immunology, Sean Spencer e Yasmine Belakaid (http://dx.doi.org/10.1016/j.coi.2012.07.006) já
discutiram este tema, mostrando que a Vitamina A tem efeitos dominantes e
pleiotrópicos no intestino. Além disso, ligantes do receptor AHR provenientes
da dieta e metabolitos derivados das bactérias comensais emergem agora como
importantes fatores na imunidade das mucosas. Portanto, nutrição , microflora
comensal e sistema imune das mucosas estão intimamente conectados.
Nesta semana, Nature (Volume 490 Number 7418 ) publicou um estudo
sobre associação da microbiota intestinal e a diabetes do tipo 2. Junjie Qin et
al. desenvolveram um novo método, MGWAS, metagenome-wide
association study, cujo objetivo foi comparar o conteúdo genético da
microbiota fecal de pessoas saudáveis versus a de pacientes com diabetes do
tipo 2. Os autores identificaram vias específicas e metabólicas associadas à
coorte analisada e mostram que alguns destas podem ser utilizadas como
biomarcadores.
Na Science de Setembro (SCIENCE VOL 337 21 SEPTEMBER 2012 1553 ), o artigo de Hand et al. mostram que nosso sistema immune
geralmente ignora a bacteria intestinal comensal (Friend), mas quando a
infecção com o patógeno danificam a barreira limite intestinal, os micróbios
residentes podem invadir o organismo, induzindo respostas imunes dirigidas a
eles próprios. Como esta resposta immune inapropriada é induzida ainda não é
claro. Neste artigo do Science, Hand et al.examinaram células T CD4+
específicas para a proteína flagelina expressas por certas bactérias
Clostridium, que são comensais no intestino do camundongo adulto. Estes
microorganismos não-patogênicos são
ignorados pelas céluals T que permanecem no estado naive. Entretanto, quando os
pesquisadores infectaram os camundongos com Toxoplasma
gondii, que causa dano intestinal, a bactéria clostridium falha em se
manter na barreira intestinal e pode ser recuperada nos linfonodos e baço. Esta
translocação da bactéria comensal causou a proliferação das células T CD4
específicas para o Clostridium e sua migração para o intestino. Estas
células também se diferenciaram em células efetoras do tipo Th1, mimetizando a
resposta contra o Toxoplasma gondii,
mas que também tem sido caracterizada em muitas doenças autoimunes. Hand et al
também mostraram que os camundongos mantém uma população de células T CD4 de
memória específicas para a flagelina da bactéria comensal, mesmo após a
resolução da infecção pelo T. gondii
e a reconstrução da barreira presente na mucosa.
Estes resultados trazem implicações importantes. Sabe-se, por
exemplo, que doenças inflamatórias do intestino, como doença de Crohn e colite
ulcerativa, são caracterizadas por respostas de células T CD4+ direcionadas
contra bactérias intestinais comensais. Embora não seja claro como estas
respostas são iniciadas, é conhecido que vários genes que regulam a resposta
imune às bactérias comensais e manutenção da barreira da mucosa estão
intimamente associados à incidência de doenças intestinas inflamatórias.
Este estudo abre novas perspectivas para o estudo da
microbiota e da associação com os diferentes patógenos, que culminariam na indução
de respostas imunes indesejadas.
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