quinta-feira, 26 de julho de 2012

O estudo da coevolução pode auxiliar no controle de doenças infecciosas?

Para responder a esta questão, partimos primeiramente de uma reflexão a respeito da relação patógeno-hospedeiro. Tentamos ir além dos preconceitos e equívocos existentes, usando a evolução como pano de fundo para enxergarmos essa complexa relação ecológica.

Um bom exemplo de coevolução é a microbiota intestinal de mamíferos, tão abordada recentemente, que é constituída de trilhões de microrganismos (Windsor, 1998; Gallo & Hooper, 2012). Estes estabelecem uma relação simbiótica para a sobrevivência de ambas espécies, tendo uma contribuição essencial para o metabolismo dos mamíferos na nutrição e proteção contra organismos patogênicos. A quebra dessa relação pode ocasionar diversas patologias, tais como bacteremia ou inflamação crônica (Hooper & Macpherson, 2010).

O melhor entendimento desse processo de quebra da homeostasia na interação patógeno-hospedeiro, bem como da resposta desencadeada mediante este desafio, se dá por meio da observação  isonômica das macro- e micro-relações envolvidas.

Para se avaliar as macro-relações, é necessário realizar a observação do contato entre parasitos e hospedeiros in natura, o papel dos reservatórios no contexto, as modificações ambientais induzidas pelo homem, uma vez que tais são potenciais fatores de risco na quebra da harmonia destas relações. Como exemplo, podemos citar a construção de usinas hidrelétricas, parques, clubes e praças esportivas proporcionam maior contato da população com a natureza, levando ao desequilibrio das interações, que podem resultar em surtos de doenças infecciosas ocasionadas por aumento de contato com reservatórios epidemiológicos e insetos/artrópodes vetores. Quanto as micro-interações, é necessário uma avaliação minuciosa das mecanismos de virulência dos patógenos, bem como dos fatores desencadeados pelas células imunes mediante os desafios, buscando a compreensão dos motivos que levam a quebra homeostática da relação entre ambas espécies.

Portanto, para se controlar as doenças infecciosas, é importante considerar as diferentes trajetórias evolutivas de cada espécie envolvida, as vias de transmissão utilizadas, bem como os aspectos ecológicos implícitos, para se ter a exata noção da complexa relação que se estabelece, buscando-se assim intervenção mais precisa (e menos empírica) no contexto da patologia induzida.

Neste sentido, vale aqui uma reflexão: Afinal, os patógenos são sempre os vilões da história??





Referências Bibliográficas:

- Windsor, D. A. Controversies in parasitology: Most of the species on Earth are parasites. International Journal for Parasitology. v. 28, p. 1939-1941, 1998.
- Hooper, L. V. & Macpherson, A. J. Immune adaptations that maintain homeostasis with the intestinal microbiota. Nature Reviews Immunology, v. 10, p. 159-169, 2010.
- Gallo, R. L. & Hooper, L. V. Epithelial antimicrobial defense of the skin and intestine. Nature Reviews Immunology, v. 12, p. 503-516, 2012.


Post por:
Caroline Martins Mota, Cecílio Purcino da Silva Souza Neto, Helena Maria Caleiro Acerbi Penha, Lourenço Faria Costa, Patrício da Silva Cardoso Barros, Thaise Lara Texeira.


Texto elaborado como parte integrante da disciplina "Relação Patógeno-Hospedeiro" (IPA63), Programa de Pós-graduação em Imunologia e Parasitologia Aplicadas, Universidade Federal de Uberlândia, coordenada por Prof. Tiago Mineo e Prof. Matias Szabó.


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