Para responder a esta
questão, partimos primeiramente de uma reflexão a respeito da relação patógeno-hospedeiro.
Tentamos ir além dos preconceitos e equívocos existentes, usando a evolução
como pano de fundo para enxergarmos essa complexa relação ecológica.
Um bom exemplo de
coevolução é a microbiota intestinal de mamíferos, tão abordada recentemente, que
é constituída de trilhões de microrganismos (Windsor, 1998; Gallo & Hooper,
2012). Estes estabelecem uma relação simbiótica para a sobrevivência de ambas
espécies, tendo uma contribuição essencial para o metabolismo dos mamíferos na
nutrição e proteção contra organismos patogênicos. A quebra dessa relação pode
ocasionar diversas patologias, tais como bacteremia ou inflamação crônica
(Hooper & Macpherson, 2010).
O melhor entendimento desse processo de quebra da homeostasia na interação patógeno-hospedeiro, bem
como da resposta desencadeada mediante este desafio, se dá por meio da observação isonômica das macro- e micro-relações envolvidas.
Para se avaliar as macro-relações,
é necessário realizar a observação do contato entre parasitos e hospedeiros in
natura, o papel dos reservatórios no contexto, as modificações ambientais
induzidas pelo homem, uma vez que tais são potenciais fatores de risco na
quebra da harmonia destas relações. Como exemplo, podemos citar a construção de
usinas hidrelétricas, parques, clubes e praças esportivas proporcionam maior
contato da população com a natureza, levando ao desequilibrio das interações, que
podem resultar em surtos de doenças infecciosas ocasionadas por aumento de
contato com reservatórios epidemiológicos e insetos/artrópodes vetores. Quanto
as micro-interações, é necessário uma avaliação minuciosa das mecanismos de
virulência dos patógenos, bem como dos fatores desencadeados pelas células imunes
mediante os desafios, buscando a compreensão dos motivos que levam a quebra
homeostática da relação entre ambas espécies.
Portanto, para se
controlar as doenças infecciosas, é importante considerar as diferentes trajetórias
evolutivas de cada espécie envolvida, as vias de transmissão utilizadas, bem
como os aspectos ecológicos implícitos, para se ter a exata noção da complexa
relação que se estabelece, buscando-se assim intervenção mais precisa (e menos
empírica) no contexto da patologia induzida.
Neste sentido, vale
aqui uma reflexão: Afinal, os patógenos são sempre os vilões da história??
Referências Bibliográficas:
- Windsor, D. A. Controversies in parasitology:
Most of the species on Earth are parasites.
International Journal for Parasitology. v. 28, p. 1939-1941, 1998.
- Hooper, L. V.
& Macpherson, A. J. Immune adaptations that maintain homeostasis with the
intestinal microbiota. Nature Reviews Immunology, v. 10, p. 159-169,
2010.- Gallo, R. L. & Hooper, L. V. Epithelial antimicrobial defense of the skin and intestine. Nature Reviews Immunology, v. 12, p. 503-516, 2012.
Texto elaborado como parte integrante da disciplina "Relação Patógeno-Hospedeiro" (IPA63), Programa de Pós-graduação em Imunologia e Parasitologia Aplicadas, Universidade Federal de Uberlândia, coordenada por Prof. Tiago Mineo e Prof. Matias Szabó.
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