quinta-feira, 5 de julho de 2012

Evolução Experimental da Patogênese: Intelligent (PI) design?



Hoje em dia sequenciar o genoma de um organismo ficou muito mais fácil e barato.
Enquanto em meados da década de 90 sequenciar um genoma bacteriano demorava mais de 1 ano com custo de cerca de 1 milhão, hoje é possível fazê-lo em um dia com custo de U$ 500 dólares por genoma.

OK, mas quais são as aplicações?

Esses dias discutimos um artigo que soube aplicar muitíssimo bem essa tecnologia. 

O processo evolutivo a tempos fascina os biologistas e o público leigo em geral. No entanto, para quem estuda evolução o grande desafio é a ausência de formas intermediárias ente as espécies que temos hoje versus as espécies ancestrais.  É verdade que os fósseis ajudam, mais ainda assim a disponibilidade de espécies ancestrais é muito limitada.

Para contornar a indisponibilidade de formas ancestrais, alguns cientistas desenvolveram sistemas de evolução experimental, nos quais é possível ter acesso as formas ancestrais, a todos as intermediárias e as finais.

Ai que chega o “next generation” sequencing na hitrória:

O grupo do Ralph Isberg (Tufts University, Boston, EUA), montou um modelo fantástico de evolução experimental de Legionella pneumophila em macrófagos (veja o artigo aqui). Vale ressaltar que na natureza essas bactérias se replicam em amebas e sofrem pressão seletiva apenas no interior desses protozoários unicelulares, que não tem vias requintadas de imunidade e inata como os nossos macrófagos.

Eles acompanharam durante um ano, quatro populações bacterianas independentes que foram continuamente replicando em macrófagos (centenas de gerações).  De tempos em tempos o genoma dessas quatro populações foi sequenciado e as modificações genotípicas foram avaliadas. Conforme esperado, os dados mostram que as bactérias desenvolvem alterações genéticas e passam a se replicar melhor nos macrófagos. Algumas mutações aparecem e depois desaparecem, enquanto outras aparecem e se estabelecem na população...  

O que eu achei mais legal é que entre as quatro populações algumas desenvolvem mutações que não são verificadas nas outras...  Isso é muito legal porque prova experimentalmente aquela idéia do Stephen Jay Gould que a evolução ocorre segundo pressões seletivas direcionais, mas ao acaso (o que desafia a idéia de criacionismo e “Intelligent Design”) . Ou seja, se pudéssemos voltar na história desde a origem da vida e evoluir tudo de novo certamente as formas de vida existentes seriam muito diferentes das que temos hoje... 

Para quem gosta de ler e discutir evolução é um prato cheio! 


Um comentário:

  1. Ótimo post, realmente o barateamento do sequenciamento ainda vai trazer muitas novidades para o campo da biologia. Fascinante ver a coevolução desses pequenos seres, fico pensando o que Darwin acharia disso.

    Na minha opinião o sequenciamento das populações de HIV em um mesmo indivíduo e na população é mais interessante. Primeiro porque o virus se replica mais rapidamente, segundo porque tem uma taxa de mutação alta.

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