domingo, 24 de junho de 2012

Journal Club-IBA: O lado negro das células de Langerhans


Os tecidos epiteliais, incluindo a pele, estão situados em locais onde são constantemente expostos a diversas substâncias tóxicas presentes no ambiente. As células dendríticas residentes na pele surgem como vigilantes imunológicos e, em cooperação com as células de Langerhans (LCs) da epiderme, tem papel importante na ativação das reações imunológicas deste tecido.
Recentemente foram demonstrados novos papéis exercidos por estas células, sendo um deles essencial para regulação da hipersensibilidade de contato (CHS), uma resposta mediada por células T CD8+ e induzida por agentes químicos conhecidos como haptenos, que podem estar presentes em fragrâncias, metais, preservativos e drogas. Nesse sentido, Agüero e colaboradores (2012) utilizaram um modelo de indução de tolerância à haptenos para demonstrar in vivo que as LCs capturam haptenos “fracos” (DNTB), migram para o linfonodo e apresentam para linfócitos T CD8+ e T CD4+ Foxp3+ via MHC I e MHC II respectivamente, tendo a capacidade de suprimir a resposta citotóxica de células T CD8+ efetoras, tornando-as anérgicas, além de induzir a proliferação e ativação de células T reguladoras (aqui). Esta capacidade de tolerizar esta resposta imune é benéfica, pois protege contra a hipersensibilidade de contato.
As LCs também apresentam função inata, importante na remoção e processamento de impurezas presentes na epiderme. E, diante do conhecimento que hidrocarbonetos poliaromáticos (PAH) (agentes com potencial carcinogênico) estão presentes na atmosfera e há a possibilidade de contato da epiderme com tais compostos, foi feito um questionamento sobre quais seriam as consequências da captação de tais compostos pelas LCs, visto que em 2008, Strid e colaboradores observaram que camundongos sem células de Langerhans são resistentes ao carcinoma de pele induzido pelo PAH denominado 7,12-dimethylbenz[a]anthracene (DMBA) (aqui).
Com o objetivo de investigar porque camundongos desprovidos de células de Langerhans são resistentes ao carcinoma de pele induzido por DMBA, Modi e colaboradores (2012) descrevem um novo atributo das LCs, porém com consequências desfavoráveis ao hospedeiro, mostrando um lado “negro” destas células nunca antes visto (aqui).  Os autores descobriram que para que o câncer se desenvolvesse, este composto aromático deveria ser metabolizado pelas LCs e o produto gerado por elas (3,4-DMBA diol) seria captado pelos queratinócitos adjacentes, que por sua vez transformariam 3,4-DMBA diol em DMBADE, um metabólito genotóxico e oncogênico. Na ausência das LCs essa sequência de eventos metabólicos não é completa e a doença não se desenvolve. Elas estariam entregando ao “próximo”, algo que se processado é carcinogênico! Muy amiga, né?!
Diante destes novos conhecimentos sobre a biologia das LCs e suas funções, seja ela agindo como uma célula apresentadora de antígenos ou como processadora de compostos que podem derivar metabólitos ainda mais tóxicos, as possibilidades estão abertas para entendermos de forma cada vez mais surpreendente como elas atuam na saúde e na doença.
Post de Luiz Gustavo Gardinassi, Éverton Padilha e Rafael Prado

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