domingo, 18 de março de 2012

Journal Club Iba: O Intestino e o Kepler 22b

Antes, muito antes, ninguém imaginava a possibilidade de vida fora do planeta Terra, certo? E também não se imaginava a existência de organismos vivos dentro dos nossos órgãos, mas ainda bem que existe a Ciência pra nos abrir os olhos, e a cabeça também. Hoje em dia, quando se fala em intestino, um ambiente onde bactérias e células do sistema imune (cuja filosofia de vida sempre foi a inimizade) convivem juntas e em harmonia, pensa-se logo na homeostase como o mecanismo chave que mantém essa convivência de forma saudável. A presença equilibrada de bactérias patobiontes e simbiontes, induzindo a produção de citocinas pró e anti-inflamatórias por células T, se encarrega da homeostasia local (será?). Trabalhos publicados recentemente (Nat Immunol, Science, Cell) mostraram que a manutenção da barreira epitelial íntegra do intestino é dependente da IL-22, e que os grandes produtores dessa citocina não são células Th17 ou Th22, mais do que isso, estes linfócitos CD3+ são dispensáveis na produção da IL-22 no epitélio. As principais células responsáveis por essa produção são células linfóides inatas (ILC22), que incluem as células CD3-NKp46+NK1.1lo-negRORγt+ (chamadas de NKp46 ou NK22) e CD3-NKp46-CD127+CD4+RORγt+ ou CD3-NKp46-CD127+CD4-RORγt+ (chamadas de Lti4 e LTi0 respectivamente).

A IL-22 produzida pelas ILC22 é dependente da IL-23 liberada por células dendríticas ativadas por peptídeos da microbiota, e isso só ocorre quando há ativação do receptor de aril hidrocarboneto (AhR), pois é ele quem induz a expressão do receptor da IL-23. Além, disso, o AhR associa-se cooperativamente ao RORgt e juntos ligam-se ao locusil22 aumentando a produção de IL-22. A ativação do AhR pode acontecer por ligantes endógenos (cAMP, bilirrubina, metabólitos do triptofano) e/ou componentes da dieta presentes em vegetais crucíferos (indol-3-carbinol), e na ausência desse receptor o epitélio do intestino perde a integridade (pois não há mais IL-22), permitindo a entrada de bactérias da microbiota, que nessa situação pode causar patogênese.

O intestino é um mundo à parte, e o planeta Kepler 22b, detectado pela primeira vez em 2009 e situado a cerca de 600 anos-luz da Terra, é o primeiro planeta confirmado pela Nasa como estando numa zona orbital habitável fora do Sistema Solar, ou seja, com condições adequadas à vida em termos de disponibilidade de água, temperatura e atmosfera.

Essa é a história do Intestino e do Kepler 22b, dois mundos em descobrimento e que ainda devem dar muito o que falar.

Post de Manuela Sales, Maria Cláudia Silva, Marcel Trevizani

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