segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Eu, ou você - por que não?

Este é o meu último post aqui de San Diego (suspiro) falta menos de um mês pra eu voltar e já estou com saudade. Mas também estou com saudade do Brasil e com vontade de por em prática um monte de coisa que aprendi. Então tá bom. Queria comentar sobre as impressões mais fortes que tive aqui. Primeiro, o Brasil está na crista da onda. Impressionante. Todos reconhecem que estamos emergindo como uma potência principalmente econômica, mas os americanos sabem bem o que significa ter dinheiro, então já antevêm com mais respeito as publicações que vão saindo daqui. Em todas as temporadas que vivi nos EUA – 1993 a 1996; 1998-1999; 2004-2005; e agora – esta é a primeira vez que vejo isso acontecer.

Temos de aproveitar muito este momento em que o governo cada vez mais libera recursos pra pesquisa e tentar assegurar que isso permaneça assim - hello, nossos representantes no fomento. Nossa argumentação junto a eles só será válida se mostrarmos como isso terá impulsionado a nossa produção cientifica, não tanto em volume, mas em impacto – colocando a visão brasileira nos principais problemas da ciência que fazemos. Vamos solidificar nossa presença na história da Imunologia, algo que já vem se insinuando com a excelente qualidade de profissionais que hoje temos no Brasil - e que pode ir além dos guerreiros Rocha e Silva e Sergio Ferreira que descobriram a bradicinina. Tem que mandar a garotada treinar fora, sim. Mas tem que ter emprego pra eles na volta. Temos que nos instrumentalizar, usar e abusar da tecnologia, ou vamos ficar pra trás. Temos que fazer imaging e sequencing, temos que nos aprofundar nas alterações de expressão gênica do que estamos estudando, temos que mapear rotas de sinalização, e temos que fazer mouse genetics. Temos que fazer nossos próprios nocautes, anticorpos e peptideos e siRNA. Já estamos fazendo, tem gente fazendo, claro. Mas pra mim parece que, se a gente está chegando bem na curva final da corrida, falta ainda aquele impulso, aquele gás. Daí a importância de garantir que continuemos a ter recursos substanciais do governo. E, pelo amor de tudo o que é sagrado, descomplicar a importação, até que a gente seja finalmente independente.

Como escolher novos e promissores focos de pesquisa? Usando como exemplo aquele meeting de Inflammation que mencionei no último post. Caras que estão dominando publicações na Cell e Nature como a Diane Mathis, o Charles Serhan, o Doug Green. Os próprios ganhadores do Nobel, o Hoffman, o Beutler, o Steinman. Pra mim o padrão ali é transpor as linhas invisíveis que existem entre diferentes campos da ciência, como atualmente está havendo (já falei) com a morte, o metabolismo, o intestino. A interface com o desenvolvimento e Drosophila nos deu os receptores de padrão. Vamos olhar pros nossos modelos de pesquisa e ver até onde eles podem nos levar, fazer aquela pergunta what if. E se aquela célula não fosse macrófago? E se a inflamação pudesse ser uma coisa boa E causar cancer? E se o tipo de morte celular determinasse o curso da resposta? E se a gordura – ou o tipo de gordura, ou o cérebro, ou o fígado – influenciassem a resposta? E se o neutrófilo fosse helper? Admito, nunca estudei tanto outras áreas, mas essa é a tendência. A gente tem que se instrumentalizar, e estudar. Aqui as pessoas estão fazendo 3 pós-docs em áreas diferentes . Isso aconteceu pela falta de empregos, mas essa é também uma das origens da tendência de interfaces acontecendo hoje.

Deixo vcs com a vista do office que o Steve (querido) me deu aqui. Falando em colocar seu nome na história da imuno: Steve Hedrick foi o cara que clonou o TCR, usando uma técnica que nunca ninguém tinha então usado em imuno – subtractive hybridization. Brigou com o orientador, o então poderoso Ron Schwartz, porque este não acreditava na idéia. Mas o Mark Davis acreditou. O resto é história. Not bad. Um cara normal, e legal, como eu ou você. Por que não?

10 comentários:

  1. Ei Cris, gostei muito do comentario de que precisamos abrir espaco pra outras areas...isso ja e muito visivel aqui. Boa viagem de volta. Pena que vc va deixar esse office...que vista.....

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Obrigada querido. Realmente acho que o futuro da imunologia vem se insinuando assim, muito interdisciplinar... quanto a vista, não sei qual é mais linda, esta ou essa sua, do central park... bj!

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  4. Excelentes reflexões Cris! Também acho que é por aí, nós brasileiros temos muita ciência de qualidade e competitiva internationalmente para oferecer. Só precisamos eliminar as birocracias e abir as portas para novas idéias e desafios! Boa viagem de retorno!

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    1. Obrigada, Kelly! Realmente essa geração de vcs já me dá muita esperança, e a nossa tambem ainda tem gas. então este pode ser um turning point pra imunologia brasileira. sei que tem gente que pensa assim tambem, e é bom falar sobre isso, pois palavras viram ações... bjo grande.

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    2. Não sou da Imuno e justamente por isso vou repassar o post.
      Muitas já são as escolas no Brasil que primam pela formaçao sem redomas, multidisciplinar e cooperativa. Tenho a sorte de fazer parte de uma delas.
      Excelente texto. Boa Volta ao Brasil. Te esperamos de braços abertos.

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    1. legal Josiane! essa brasileirada é guerreira, mas a gente agora pode partir pra outro nivel de trabalho, tem que se organizar! bj

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  6. Excelente post, Cris.

    Parabéns e mto sucesso..

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