quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A more Human Nature?


Semana passada aqui em San Diego no Salk Institute a Nature promoveu um simpósio sobre inflamação e imunidade. Muita gente interessante, com a atração extra de dois nomes – dois dos ganhadores do Premio Nobel deste ano, Jules Hoffmann e Bruce Beutler. Mas vou deixar pra falar disso no proximo post. Até porque, como disse Sergio Lira, o povo fala normalmente de coisas publicadas e tem que pescar as novidades no café. Tomei muito café, depois conto. Mas os herdeiros da imunidade inata são sem duvida a morte, o metabolismo e o intestino. www.nature.com/natureconference/salk2012/

Interestingly, um dia antes do simpósio, um dos editores da Nature chegou mais cedo no departamento para dar uma palestra. Titulo no cartazinho: o que fazer e o que não fazer para submeter/publicar na Nature. Fui, né?

Ele contou que a Nature tem 4 editores profissionais, e não tem corpo editorial como a maioria das revistas. Dos papers submetidos, 78 % é rejeitado em 48hs, pelos editors. Essa decisão é tomada num tipo de journal club em que os editors apresentam os papers que receberam. Dos 22 % que vão para revisão, cerca de 50% acaba sendo aceito. Eles podem não aceitar na hora, mas vão argumentar e vc pode discutir com eles – segundo ele, desde que o nivel da discussão não despenque (Segundo ele, não use a palavra paradigma; e não argumente que a Nature publicou artigos piores que o seu – they hate that). Apresente dados que os convençam. Sabe a historia dos neutrófilos voltando do tecido para o vaso? Foi uma discussão de quase um ano na Nature.

A principal qualidade de um paper pra eles é a novidade, seguida de perto pela relevancia. Nao adianta só ser novo. Eles olham tambem se a observação se repete em humanos, ou animais wild type – pois pode ser apenas um artefato de um nocaute ou manipulação genetica.

O tamanho do paper foi muito enfatizado. É pra ser um paper de 4 figuras. Figuras suplementares estão sendo limitadas. Basicamente, se vc não consegue mostrar novidade e relevãncia em 4 figuras, não serve. A maioria dos reviewers, quando pesquisado, responde que não olha figuras suplementares (!).

Então tem que ser novo, relevante, e objetivo – e dai vai para revisão. Tem muitos casos em que um revisor ama e outro odeia. E os editores em geral buscam outras opiniões, diz ele. Ah, eles querem agora artigos de conteudo translacional, uma novidade.

Tem mais coisa, mas já combinei com o Sergio Costa de convidar o Zoltan – esse é o nome do menino – para vir dar a palestra num congresso da SBI. Vejam bem, a UCSD não chamou ele – ele pediu pra dar a palestra, no que me parece um esforço da Nature pra tentar deixar mais transparente o processo de revisão e publicação – veja tambem a discussão do post de ontem. Eles também estão sentindo a pressão. Então, acho que a gente tem que participar dessa discussão.

12 comentários:

  1. Informações muito preciosas, Cris! Thanks!

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  2. Muito bom o texto Cristina, Parabéns! Lembro-me que li um artigo na Nature apenas com 1 figura (sobrevida). Essa é a dificil arte de vender o peixe

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  3. Informações muito relevantes para pensar nos artigo e planejar projetos. Temos o hábito de querer incrementar e enrolar para mostrar excelencia. Ainda bem que eles primam pela objetividade dentro das descobertas.

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  4. Sobre a rejeição de 78% dos artigos em 48h, por quatro editores, é muito poder decisório na mão de pouquíssimos.

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    1. Eu concordo que é muito poder pra poucos, contudo ate achei melhor que fossem 4 tomando a decisão - achava que era um só. Mas ele deu varios exemplos e parecia bem realista, muuuuuito informado.

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  5. Ei Cris, impressionante o poder dos editores nao? No meeting do Colorado encontrei com Bruce Koppelman da Immunity e ele me deu numeros semelhantes. Em portugues, que fala fluentemente. O que e' impressionante e' que dos papers que passam, 50% sao publicados. Isso, claro, depois de uma alcateia de revisores exigir "o tal do mecanismo".

    Sobre o fato da novidade ser o fator decisorio nao me espanta. Cao morde homem nao e' manchete. Homem morde cao é. Assim que se vende jornal...

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    1. convida o koppelman! vamos fazer uma mesa e colocar eles na parede!

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  6. Por eles terem esse poder todo, temos que garantir que participaremos desse processo, os editores tem que vir ao Brasil, e encurtar essa distancia - os proximos anos vão trazer grandes descobertas no Brasil, porque teremos funding, mas conhecer os editores e eles conhecerem a gente faz toda a diferença!

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  7. Sergio, conheci o Bruce por aqui também e ele me disse que os brasileiros não submetem papers para a Immunity (raríssimos; 1 paper/ano, algo assim). Taí um bom tema para discussões e posts aqui no blog.

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  8. O brasileiro costuma é ter medo da Immunity, Nature and so on. Temos que trabalhar mais a psicologia de ciência. Aqui nos EUA, os caras ligam e batem papo com os editores. Enchem o saco dos caras. E assim, vendem melhor o peixe. A gente tem que encurtar mesmo a distância e encher o saco dos caras também.

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  9. tudo muito interessante, ótimo post!
    achei também interessante (pra não dizer engraçado)que 'paradigma' não deve ser usado, caiu de moda, já foi o tempo. mas, no topo da moda, está a palavra 'translacional', então use pra dar um 'up' no seu paper. é mais ou menos o caso de 'systems biology' também. Essas deveriam ser características naturais de nossos trabalhos, já que os fenômenos não conhecem limites nem as disciplinas (que nós inventamos), mas parece que essa gente adora reiventar a roda.
    um pouco de Zeca Baleiro pra descontrair:
    "Quando o homem inventou a roda
    logo Deus inventou o freio,
    um dia, um feio inventou a moda,
    e toda a roda amou o feio"

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