terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Camundongos transparentes




Usando reagentes comuns de laboratório, um pesquisador japonês recentemente encontrou um método para fabricar tecidos transparentes.

Alguns anos atrás, um colega chegou até o pesquisador japonês Atushi Miyawaki com uma observação simples. Enquanto estava fazendo um experimento de western blot com géis, ele notou que a propriedades de dispersão da luz dos géis desapareciam quando eram submergidos numa solução contendo uréia. Então, Miyawaki se perguntou se a solução de uréia poderia também reduzir a dispersão de luz de tecidos, o que permitiria aos pesquisadores ter uma visão mais profunda de um organismo para observar sua fisiologia de uma forma mais ampla.

A partir dessa hipótese, Miyawaki e seus colaboradores do Cell Function Dynamics Laboratory, RIKEN Brain Science Institute no Japão desenvolveram um reagente clarificante capaz de tornar tecidos transparentes sem afetar as técnicas fluorescentes de marcação. Os pesquisadores descobriram que uma mistura de uréia, glicerol e tensioativo tornava membranas sintéticas transparentes. Quando eles aplicaram a mistura em fetos de camundongos, observaram que a solução removia todo o pigmento dos tecidos, fazendo com que se tornassem transparentes.

Diz Miyawaki: “Métodos convencionais são laboriosos e difíceis para produzir reconstruções tridimensionais de tecido cerebral. Por outro lado, durante a obtenção de seções óticas, a penetração dos tecidos é um desafio, pois a realização de imagens mais profundas é limitada pela dispersão da luz. Foi quando surgiu a idéia de se usar a solução de uréia para diminuir as propriedades de dispersão da luz. Uréia é um reagente de laboratório muito comum e barato usado para desnaturar proteínas. Em animais, a uréia é um metabólito de compostos nitrogenados, eliminado pela urina.”

A descoberta do cientista japonês interessa particularmente os neurobiologistas, porque o reagente promete revelar a estrutura do sistema nervoso sem as limitações das técnicas de análise de seções de tecidos convencionais. Miyawaki e seus colaboradores passaram anos desenvolvendo a fórmula que levaria a uma clarificação total dos tecidos, preservando as funções da proteínas fluorescentes. Em artigo científico publicado na Nature Neurobioscence, em Setembro de 2011, usando o reagente clarificante denominado Scale, o grupo do cientista japonês produziu imagens de neurônios marcados com fluorescência em tecido cerebral fixado de camundongos a uma profundidade de 4mm.

Pela facilidade de obtenção e custo baixo do reagente, alguns laboratórios ao redor do mundo já estão testando as propriedades da solução clarificante. A Scale não é patenteada e como os reagentes da solução estão apresentados no artigo, qualquer pesquisador pode modificar a fórmula, caso haja necessidade de aplicação em outros tipos de amostras. Uma vez que a fórmula está disponível para todos, Miyawaki espera dar aos pesquisadores flexibilidade para desenvolver novas aplicações para a solução.

Referência:
Hama H, Kurokawa H, Kawano H, Ando R, Shimogori T, Noda H, Fukami K, Sakaue-Sawano A, Miyawaki A. 2011. Scale: a chemical approach for fluorescence imaging and reconstruction of transparent mouse brain. Nat Neurosci. 14:1481-8.

3 comentários:

  1. proximo passo eh deixar o bicho transparente e vivo...

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  2. Andréa, sensacional! Concordo com a Cris, um bicho transparente e vivo ia ser uma revolução. Por mais que temos em mãos hoje em dia tecnologias para a observação de fluorescência em animais vivos, a pele e os pelos ainda são grandes barreiras. De qualquer forma, pela simplicidade do protocolo, a aplicabilidade da técnica é fantástica.
    Parabéns pelo post!

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  3. Fantástico! especialmente pelo fácil acesso a metodologia, sem o impasse de patentes e falta de clareza na metodologia. Isso que é ciência altruísta!

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