sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Vacinas contra HIV: uma luz no fim do túnel?

Diferentes obstáculos são encontrados quando se trata de desenvolver uma vacina contra o HIV, um vírus altamente mutável e que tem evoluído ao longo do tempo para escapar da resposta imune. Durante as últimas décadas tem sido observado o enorme esforço de diversos grupos de pesquisa em produzir uma vacina eficaz. Entre as que mais avançaram estão a AIDSVAX B/E (VaxGen), baseada na proteína recombinante do envelope viral (gp120), e a MRKAd5 HIV (Merk), que utiliza o adenovírus como vetor para expressar Gag, Pol e Nef (proteínas do HIV). Ambas induziram a diferenciação de linfócitos T CD4+ e CD8+ específicos para o vírus, além da produção de anticorpos. No entanto, falharam em controlar a rápida replicação viral que ocorre na fase primária da infecção. Isso pode ser explicado pelo fato de que nesses modelos, os antígenos vacinais são rapidamente eliminados do organismo, permitindo apenas o desenvolvimento de células T de memória central (TCM), as quais após infecção são reativadas somente quando o vírus chega aos órgãos linfóides secundários e já se encontra disseminado no organismo.

No trabalho recentemente publicado na Nature, Hansen e colaboradores, descrevem uma nova abordagem para uma vacina profilática que visa eliminar o vírus ainda no sítio de infecção. Eles relatam que, em macacos rhesus, a utilização do CMV como vetor persistente expressando os antígenos do SIV (simian immunodeficiency vírus) induziu continuamente um tipo distinto de célula T vírus-específica, as células T de memória efetora (TEM). Quando presentes nas mucosas, as células TEM CD8+ foram capazes de eliminar rapidamente as células infectadas e limitar os primeiros estágios de replicação do SIV em 13 dos 24 animais. Este padrão de viremia transitória no início da infecção e seu rápido declínio ao longo do tempo para níveis indetectáveis do vírus no plasma e na mucosa infectada nunca havia sido descrito anteriormente.

De fato, este trabalho pode trazer avanços significativos na construção de novas vacinas contra o HIV. No entanto, algumas questões importantes ainda devem ser respondidas: a vacina pode ser protetora, mas qual seria sua eficácia terapêutica? Como driblar a alta taxa mutagênica do HIV? E por fim, a expressão persistente de antígenos virais pode induzir tolerância?

É isso aí....boa leitura!

Post de Patrícia A. Assis, Everton Padilha e Milena S. Espíndola

Referências:

Hansen SG, Ford JC, Lewis MS, Ventura AB, Hughes CM, Coyne-Johnson L, Whizin N, Oswald K, Shoemaker R, Swanson T, Legasse AW, Chiuchiolo MJ, Parks CL, Axthelm MK, Nelson JA, Jarvis MA, Piatak M Jr, Lifson JD, Picker LJ. Profound early control of highly pathogenic SIV by an effector memory T-cell vaccine. Nature. 2011 May 26;473(7348):523-7. Epub 2011 May 11

Hansen SG, Vieville C, Whizin N, Coyne-Johnson L, Siess DC, Drummond DD, Legasse AW, Axthelm MK, Oswald K, Trubey CM, Piatak M Jr, Lifson JD, Nelson JA, Jarvis MA, Picker LJ. Effector memory T cell responses are associated with protection of rhesus monkeys from mucosal simian immunodeficiency virus challenge. Nat Med. 2009 Mar;15(3):293-9. Epub 2009 Feb 1

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