quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Perda inestimável

O que queria falar aqui não está relacionado à Imunologia, mas provavelmente é de interesse geral, e assim sendo, gostaria de aproveitar o espaço de divulgação científica proporcionado pelo Blog da SBI para falar um pouco da perda de parte significativa do Banco Genético Florestal da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, por conta de um incêndio ocorrido em 16/08/2011, cujas causas permanecem desconhecidas.

Tal desastre, embora menor em termos absolutos, equipara-se ao ocorrido com a coleção de Serpentes do Instituto Butantã, destruída pelo fogo em 2010. Portanto, trata-se da perda de uma verdadeira coleção viva, objeto de estudo de muitos trabalhos (concluídos e em andamento) e laboratório a céu aberto de várias aulas do curso de Biologia da FFCLRP-USP, bem como um patrimônio um tanto desconhecido pela da sociedade, e que acaba de se tornar famoso no momento de seu fim!

O Projeto Floresta da USP/RP implantou o único Banco Genético de mata mesófila semidecidual do Brasil, sendo fruto da dedicação de uma grande equipe liderada pela Prof. Dra. Elenice Mouro Varanda (Depto. De Biologia/FFCLRP-USP) e composta por outros docentes, alunos, funcionários e pessoas da comunidade de Ribeirão Preto. Tal trabalho foi implantado em duas etapas, sendo uma de recomposição vegetal abrangendo cerca de 30 ha e o banco genético (BG), com cerca de 45 ha. O BG tem 45 espécies produzidas a partir de sementes obtidas de 25 matrizes com uma diversidade de 3375 progênies coletadas em mais de 400 áreas de fragmentos naturais da Bacia do Pardo-Mogi. Assim, o BG objetiva a manutenção e conservação da diversidade genética de plantas nativas, bem como fornecer sementes de origem e qualidade garantidas para outros projetos de recuperação de áreas degradadas.

Portanto, gostaria de pedir aos que lerem essa lamentável notícia que divulguem o ocorrido via Facebook, twitter, e outros meios, para que a sociedade saiba o que realmente ocorreu já que os poucos anúncios feitos pela imprensa reduzem o ocorrido à queima de apenas alguns hequitares, quando o que se sabe é que se perdeu quase a totalidade do Banco Genético, e não apenas “mato”: “... Isso não é mato, é o trabalho da minha vida...” (Professora Elenice, referindo-se ao projeto ao qual se dedicou pelos últimos 25 anos). Assim, a máxima divulgação do ocorrido é necessária para que se exija uma maior atenção e apoio a esse tipo de trabalho já que boa parte do incêndio poderia ter sido evitada se houvesse a presença no campus de um caminhão pipa (indisponível não por falta de pedidos), e também para que as investigações das causas sejam agilizadas.

Foto retirada pelo Prof. João Santana da Silva no local do incêndio.



Varanda, E. M; Kageyama, P. Y; Silva, A. J; Rosa, A. C; Banco genético da Universidade de São Paulo.

http://cienciae.blogspot.com/2011/08/esclarecimento-sobre-o-incendio-na.html?spref=fb

Mais informações sobre o projeto: http://biofecunda.wordpress.com/2008/10/23/biodiversidade-e-pioneirismo-na-floresta-da-usp-ribeirao-preto/

Murilo Solano Dias, graduando em Biologia (FFCLRP/USP) e estagiário de iniciação científica do Depto. de Bioquímica e Imunologia-FMRP/USP, Laboratório de Imunoparasitologia.

2 comentários:

  1. Raiva. Esse e' meu sentimento ao ler uma noticia dessa. Muita raiva. Como pode ser que um tesouro desse seja desperdicado? Isto e' uma tragedia. Junto com o incendio do Butanta.

    O que faz o Ministerio da Ciencia e Tecnologia numa hora dessas? Emite talvez um comunicado que as causas devem ser apuradas, etc? Onde estao os caminhoes pipa? Onde estamos como cientistas numa hora dessa?

    Minha solidariedade total com a professora Elenice e com os demais docentes da USP Ribeirao Preto.

    Alem da minha revolta quero deixar registrada minha disposicao de assinar, como cientista brasileiro e colega da professora Elenice, carta ao governo brasileiro pedindo esclarecimento, ressarcimento, e mais importante, providencias para evitar futuras tragedias como esta.

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  2. Só uma pequena correção de um erro cometido por mim: Segundo a Professora Elenice, o campus conta com um caminhão pipa sim, só que no entanto, ele não é capaz de atender necessidades como essas por estar velho demais.

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