domingo, 10 de julho de 2011

A DAMA IMORTAL













Em meio aos causos de plágio de trabalhos científicos que temos lido e escutado, esses dias no laboratório me falaram que as células HeLa foram roubadas de sua dona. Mas como assim roubadas? Pois bem, se você é pesquisador “das antigas” (assim se fala na minha terra natal – Natal, quando se quer dizer ‘há alguns, ou muitos, anos’) e já sabe dessa história, pode parar por aqui, caso contrário, vale à pena a informação.

Em 1951 Henrietta Lacks, mulher negra, pobre – e imortal, diga-se por passagem, foi diagnosticada com um tumor maligno de colo de útero. Antes da primeira sessão de radioterapia um jovem residente retirou mais uma amostra do tumor que não era para biópsia. A amostra viera cair em mãos de George Gey, chefe do departamento de cultura celular de Hopkins, que durante décadas procurava ferramentas para entender o câncer. Na época não havia cultura de células e muito menos a estrutura do DNA, mas concordem que a obtenção de células tumorais que cresciam fora do corpo humano era um primeiro e grande passo. Em outubro daquele mesmo ano, o câncer levou Henrietta à morte, quando então Geroge Gey aparece em rede nacional regando todas as esperanças para cura do câncer. As células então batizadas de HeLa, e cuja família da moça não fora informada de nadica-de-nada foi distribuída para diversos pesquisadores e auxiliaram Jonas Salk na produção da vacina contra poliomielite. Note que a coisa crescera como um câncer, e ultrapassou os limites dos estudos dos tumores. Eu digo e repito ultrapassou os limites dos estudos, ô se ultrapassou! Não só as células HeLa crescem fora de controle, mas também a ganância de muitos em publicar a qualquer custo. O dilema ético é bem mais complexo. Não que eu não reconheça os avanços que a HeLa permitiu, mas uma coisa é o aceite do paciente para uma pesquisa acadêmica, outra coisa é o aceite não ser questionado, como fica registrado na frase de Deborah Lacks, filha de Henrietta Lacks, “Why didn't they just ask if they could use her cells?''. Questione-se a respeito, qual a sua opinião?

(A propósito, Células HeLa não foram derivadas de uma pessoa chamada Helen Lane ou Helen Larson, como aparece em diversos textos científicos – talvez uma tentativa de apagar a verdadeira identidade da HeLa...)

Manuela Sales, IBA FMRP/USP

Um comentário:

  1. Recomendo vocês o livro A VIDA IMORTAL DE HENRIETTA LACKS, um dos melhores de 2010 pelo The New York Times!

    http://tinyurl.com/6esqeoy

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