sexta-feira, 17 de junho de 2011

Plataformas facilitam buscas por testes clínicos

Quando me mudei para a região de Boston, me chamou atenção a grande quantidade de propagandas para participação em testes clínicos espalhadas pela cidade. Cartazes no metrô anunciando a busca por pacientes com diferentes condições clínicas são comuns: “se você é obeso, diabético e tem mais de 40 anos, participe do teste X...”.

Agora o recrutamento simplificado de pacientes, usando plataformas online de fácil navegação, vem ganhando força por aqui. A ideia é que o paciente consiga localizar testes clínicos em andamento na sua região e adequados para a sua condição.

É o caso da ferramenta lançada no começo deste mês pela empresa Patients Like Me (aqui). Fiz uma simulação usando os meus dados, supondo que eu estivesse com alergia alimentar. Ao digitar “food allergy”, sexo feminino, minha idade (não vou contar) e meu CEP, descobri que eu poderia pegar um metrô até o Brigham and Women's Hospital, em Boston, para participar do estudo “Trichuris Suis Ova in Peanut and Tree Nut Allergy”, que tem como objetivo avaliar se TSO, um potente imunomodulador, é seguro em crianças e adultos alérgicos a amendoim e nozes, castanhas, amêndoas, avelãs, entre outras nuts. Fazendo a mesma busca, mas tirando o filtro da condição clínica, o resultado é impressionante: há 1735 testes clínicos recrutando pacientes com o meu perfil (idade e sexo) aqui nessa região, para as mais diversas doenças.

A Universidade Tufts também lançou recentemente uma ferramenta de busca (aqui), com filtros similares aos listados acima. A Partners já oferecia um serviço parecido (aqui), restrito aos testes clínicos em andamento no Massachusetts General Hospital (MGH), the Brigham and Womens Hospital (BWH) e outras instituições parceiras da Partners HealthCare System (aqui).

Embora o site ClinicalTrials.gov, do NIH, também ofereça a opção de busca por testes clínicos (aqui), não há os filtros de sexo, idade e CEP disponíveis no Patientes Like Me. A mesma simulação descrita acima, usando “food allergy and Boston”, trouxe como resultado quatro testes clínicos com recrutamento ativo. É importante dizer que o banco de dados da empresa é atualizado diariamente com informações dos testes clínicos listados na plataforma do ClinicalTrial.gov.

Tinker Ready, do blog da Nature que cobre os eventos de ciência da região de Boston (aqui), sugere que tais sites deveriam deixar claro que os testes clínicos são estudos e não formas de tratamento. Segundo ela, muitos pacientes se inscrevem para estes estudos com o "therapeutic misconception" - a ideia de que estão usufruindo dos benefícios de pesquisas de ponta, o que pode ou não ser verdade. Eles podem entrar no grupo placebo ou podem receber um tratamento que pode não funcionar tão bem.

Um breve adendo: pesquisadores da Patients Like Me publicaram um artigo na Nature Biotechnology no mês passado sugerindo que dados reportados por pacientes na internet podem ser úteis para acelerar a pesquisa clínica e avaliar a eficácia de drogas já em uso (resumo aqui). Na plataforma criada pela empresa, que foi fundada por três engenheiros do MIT, pacientes compartilham suas experiências, interagem entre si, fornecem dados sobre o curso de suas doenças e sobre os tratamentos utilizados. É o poder de um tipo de crowdsourcing! O vídeo abaixo mostra como tudo começou.

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