segunda-feira, 16 de maio de 2011

Papel do MHC de classe II na imunidade inata

Células T conseguem detectar a presença de patógenos intracelulares graças a apresentação de peptídeos derivados destes patógenos na superfície de células apresentadoras de antígenos; e.g. células dendríticas, linfócitos B, macrófagos. Esta apresentação conta com glicoproteínas especializadas, conhecidas como moléculas do complexo de histocompatibilidade principal (MHC), que conduzem peptídeos do interior à superfície celular. É então, neste contexto, que as células T reconhecem antígenos derivados de patógenos e assim dão início ao desenvolvimento da resposta imune adquirida. Apesar de imaginar que isto seja de conhecimento de todos nós leitores deste Blog, vamos continuar a relembrar algumas funções específicas do MHC de classe II. O MHC II tem função crucial no desenvolvimento e função do sistema imune, função esta intimamente ligada às células T CD4: o MHC II é essencial para a determinação do repertório de células T através das seleções conhecidas como positiva e negativa que ocorrem no timo, além da apresentação de antígenos para o reconhecimento e ativação de células T CD4 que levam ao desenvolvimento de mecanismos efetores contra patogênicos. O MHC II, quando ativado, também pode mediar adesão celular, produção de citocinas, expressão de moléculas co-estimulatórias, proliferação celular e apoptose. Todos estas funções já são bem conhecidas e importantes no controle do câncer, doenças infecciosas, ou auto-imunes.

Uma das maneiras que os patógenos desenvolveram para evadir a resposta imunológica é a capacidade de diminuir os níveis de expressão do MHC II na superfície de suas células hospedeiras, limitando assim a sua exposição e consequentemente seu reconhecimento pelas células T CD4. Já foi descrito que a deficiência de MHC II diminui a produção de TNF-alfa por monócitos e macrófagos, quando estes são estimulados com o agonista do receptor do tipo toll (TLR) 4. No entanto, até agora, o mecanismo relacionando o MHC II e os TLRs no desencadeamento da resposta imune inata ainda não tinha sido desvendado.

Em um artigo recém saído do forno, Xinggang Liu e colaboradores descreveram uma função dita não clássica para o MHC II. O estudo mostra que animais deficientes em MHC II são mais resistentes ao choque endotóxico, induzido por doses letais de LPS ou pela infecção por bactérias Gram-negativas. Estes camundongos produzem in vivo menores níveis de citocinas proinflamatórias, incluindo IFN do tipo I. Mas, como isto acontece?

Aparentemente, quando estão no interior das células, mais especificamente nos endossomos, as moléculas de MHC II interagem com a tirosina quinase Btk via moléculas de CD40 e tornam a ativação de Btk mais estável. Uma vez ativada, esta tirosina interage com as moléculas adaptadoras MyD88 e TRIF, promovendo completa ativação da via de sinalização dos TLRs. Sendo assim, moléculas de MHC II podem agir como adaptadoras promovendo uma eficiente ativação da resposta imune inata desencadeada pela dos TLRs e seus ligantes.

Em um comentário sobre o artigo, publicado no mesmo volume do JEM, Hassan e Mourad incorporam os novos achados aos já publicados na figura abaixo propondo a sinalização do MHC II.



Vale a pena se aprofundar um pouco mais na leitura:

- Piani A et al. Expression of MHC class II molecules contributes to lipopolysaccharide responsiveness. Eur J Immunol. 2000 Nov;30(11):3140-6.

- Liu X et al. Intracellular MHC class II molecules promote TLR-triggered innate immune responses by maintaining activation of the kinase Btk. Nat Immunol. 2011 May;12(5):416-24.

- Hassan & Mourad. An unexpected role for MHC class II. Nat Immunol. 2011 May;12(5):375-6.

4 comentários:

  1. ótimo post, grande exemplo de "thinking outside of the box" e mais um lembrete de que os rotulos imunidade inata e adaptativa são na verdade mais virtuais que reais...

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  2. Amei o post....vou ler os trabalhos!!

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  3. Muito interessante, muito bem discutido. Parabéns Lis, pela iniciativa.

    Adriana Malheiro

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