Blog da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI). O blog é voltado para temas de interesse dos sócios da SBI, mas aberto à toda a comunidade. Além de comentários sobre artigos, congressos e reuniões no tema da imunologia, o SBlogI trata de assuntos gerais de ciência e educação cientíifica. Este blog é seu. Comente, discuta, concorde - ou discorde!
sábado, 30 de abril de 2011
Workshop: On innate immunity and malaria
sexta-feira, 29 de abril de 2011
Mais uma razão para não eliminar o sistema imune dos pacientes de câncer
Contudo, neste artigo – que Felsher diz que levou 10 anos pra escrever (!), pois achava que ninguém da área de câncer ia acreditar– aparece uma função nova para as células T CD4+ no controle do tumor. Elas seriam controladoras da angiogênese tumoral. Veja só, células T helper não precisam ser apenas coordenadoras de resposta imune. Podem desempenhar outros papéis ao mesmo tempo – or help in other ways.
Ele começa falando do conceito de oncogene addiction – algo como o tumor ser viciado num oncogene – são oncogenes que, quando a gente interrompe, o tumor morre – base da terapia com Gleevec pra leucemia, por exemplo. Algo considerado como o calcanhar de Aquiles dos tumores. Até hoje se achava que a morte tumoral associada com oncogene addiction era intrínseca da célula tumoral, não importava onde ela estivesse.
Por outro lado, sabemos que o sistema imune tem função importante na eliminação de tumores, mas será que ele teria algo a ver com oncogene addcition? Normalmente, os estudos de terapias anti-tumorais são feitos em modelos in vitro ou animais imunodeficientes como SCID ou nude.Não se leva em conta a resposta imune, vejam só.
Isso se deve ao fato de as células T CD4+ garantirem a senescência (observada através de marcadores como p16INK4a e p21) e a indução de TSP1 (trombospondina 1), um potente fator anti-angiogênico. As células T CD4+ infiltram o tumor quando há a oncogene inactivation, e modulam o ambiente de citocinas e quimiocinas local, favorecendo a eliminação do tumor.
Na verdade, ele não sabe exatamente como essas células fazem isso, nem se essas células são tumor-específicas. Se são T reg ou que tipo de TH. Se são as células T que fazem TSP. Provavelmente o infiltrado do tumor com e sem inativação de MYC vai ser diferente, mas ele ainda não olhou isso. Ficou pro próximo paper.
Ele conclui frisando algo que vários de nós já intuíam e advogam – que para se avaliar a eficácia de qualquer agente anti-tumoral, não se pode trabalhar só in vitro, ou em SCID mice. Tem que trabalhar com um sistema imune intacto, pois são várias as sutilezas que ainda não conhecemos.
Interessante que Felsher não é imunologista, vc lê o artigo e ele parece simples, testando o crescimento tumoral em nocautes de RAG, de CD4, etc, até tem experimentos que a gente como imunologista nem faria, mas isso apenas mostra o quanto as duas áreas, câncer biology e immunology, não tem crosstalk.
Esse achado devia servir pra lembrar a gente de algo que sabemos, mas não pensamos diariamente – células e moléculas têm múltiplas funções, simultâneas, aparentemente não relacionadas. Mais importante, reforça a necessidade de encontrar terapias anti-cancer que não tenham como efeito colateral a eliminação do sistema imune do paciente.
It is a whole new ball game.
Leiam o paper na integra em Cancer Cell 18, 485–498, November 16, 2010
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Sobre camundongos, gente e camundongo-gente
Recentemente, mudei o escopo da minha pesquisa. E essa mudança foi drástica. Trabalhei alguns anos com leishmaniose e malária humana. Depois, o cenário onde os experimentos se desenrolariam foi para o pulmão (a tal da tuberculose). Vim trabalhar com um grupo excelente, mas que não faz muitos trabalhos clínicos. Aqui, o negócio é imunobiologia hard core. Então, eu que nunca tive um projeto sério em camundongos para tocar, fiquei um pouco intimidado. Foi então que o meu querido supervisor me aprontou uma. Não bastava mais tentar fazer algo em camundongos. Tinha que ser nos benditos camundongos humanizados. Então vou contar pra vocês como estou encarando esse treco.
Primeiramente, temos que nos perguntar sobre a importância de se ter um camundongo humanizado. O negócio é que para muitas condições infecciosas (nem comento em outros campos não infecciosos), não há bons modelos experimentais que possam simular coerentemente a doença humana. Alguns exemplos são o HIV, HBV, dengue, malária, leishmaniose e tuberculose. Isso acontece porque esses e outros patógenos apresentam um tropismo único por hospedeiros humanos. Neste contexto, o desenvolvimento de estratégias de intervenção, seja terapêutia ou profilática, carece de modelos mais robustos, com custo-benefício e poder de predição que se adequem e reprodução a condição humana. Camundongos e primatas têm sido utilizados amplamente como uma alternativa interessante, e muito do que se sabe em imunobiologia e vacinologia é fruto de estudos essenciais usando esses bichinhos. Tais modelos experimentais são úteis, portanto, para vários contextos e doenças. Entretanto, é comum a gente se deparar com discrepâncias importantes que resultam no insucesso da aplicação de resultados pré-clínicos promissores em vacinas e tratamentos efetivos em pessoas. Dentre as possíveis explicações para essas discrepâncias, duas são para mim bem importantes. A primeira razão vem do lado do patógeno. Em muitos modelos experimentais de infecção, os patógenos usados são diferentes dos encontrados nas pessoas. Em malária, isso é gritante, por exemplo. Outro ponto essencial é que os correlatos imunológicos de proteção em espécies de mamíferos não humanos muitas vezes divergem das respostas humanas. Traduzindo, o que está associado à proteção ou suscetibilidade de camundongos a uma determinada infecção nem sempre é a mesma coisa em humanos. Isso, pra quem faz pesquisa básica com perspectiva clínica é um desespero. A galera tenta sempre convencer que o que está sendo descrito pro tal do camundongo serve pra gente. Infelizmente nem sempre o final da história é feliz. Um exemplo bem conhecido é o do HIV e hepatites virais. Durante décadas, chimpanzés têm sido utilizados para o estudos sobre a imunobiologia e também para testes terapêuticos contra o HIV, HBV e o HCV. Os genomas desses animais são 98% idênticos ao genoma humano. O problema é que pequenas discrepâncias podem fazer uma baita diferença no final. E na verdade, nossos primos chimpanzés não possuem nenhum alelo de MHC I em comum conosco. Além disso, o famoso alelo HLA-A2, bastante comum em humanos, é completamente ausente nos nossos parentes primatas. Algumas diferenças bem evidentes também são observadas no lado do MHC II. O problema ainda vai mais longe. O uso desses animais é muito caro e inclusive banido em vários países por questões éticas. O resultado deste montão de coisas é que os experimentos em chimpanzés usam geralmente um número bem limitado de indivíduos e encontram problemas que pesquisadores clínicos enfrentam corriqueiramente, tais como a variabilidade inter-individual e com ela a baixa reprodutibilidade dos resultados.
Aí, alguém teve um epifania. O camundongo-gente. Humanized mice. Podem chamar do que quiserem. Para alguns, essa idéia soou como a música do Tom Jobim “...Foi então, que da minha infinita tristeza aconteceu você…”. Ora pois, esses bichos seriam tudo de bom. Pequenos, mas humanos. Opa, não queremos tão humanos. Só o suficiente. Uma repórter do canal FOX 5 no ano passado se manifestou contra o uso desses animais, pois teriam cérebro humano e isso é anti-ético. Não é nada disso. O que os imunologistas querem é um bichinho fácil de manipular e que tenha o sistema imune completamente humano. Mas claro que esse bichinho não pode falar, senão iriam reclamar pra caramba, não é? A idéia de ter camundongos humanizados é bem interessante. O problema é fazer os bichos. E o pessoal já tentou de tudo. Transplantar órgãos, como fígado e baço, implantar timo, etc, etc, etc. Tem gente que conseguiu grants enormes, como na Yale. Não é que agora vou trabalhar com esses quimeras? Imaginem como estou intimidado agora. Não basta ser camundongo. Tem que ser um cara esquisito. Na realidade, não chegamos ainda no paraíso. Fato é que mesmo nos mais sofisticados modelos desses camundongos, a quantidade de células humanas ainda está abaixo das expectativas. O bicho é uma quimera, cheio de células vindas de camundongo e também de gente. O que a gente não sabe precisar ainda é o peso e o preço desse “quimerismo”. Mas a gente já sabe que a resposta imune contra o HIV e EBV nessas quimeras ainda não é comparável à resposta humana. A sobrevida das células-tronco hematopoiéticas implantadas ainda é muito curta e a diferenciação em linhagens específicas, como a eritrocítica, não é efetiva. Pior, a formação de estruturas linfóides primárias e secundárias é precária. Vários grupos começaram a tentar abordagens como knock-in, acrescentando fatores de crescimento humanos, como GM-CSF, para tentar otimizar o processo. Temos portanto boas perspectivas mais ainda um longo caminho pela frente.
E vocês, o que acham desses camundongos quimeras? Você toparia trabalhar com um desses?
Segue uma revisão interessante sobre o tema (da qual retirei a figura acima): Legrand N et al. Humanized mice for modeling human infectious disease: challenges, progress, and outlook. Cell Host Microbe. 2009 23;6(1):5-9.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Programas de Pós-Graduação
Também se discute sobre a qualidade da formação alcançada e sobre a forte ênfase que os programas dão à perspectiva de trabalho na academia, o que restringiria o leque de oportunidades dos que se formam. É claro que há brutais diferenças entre o que ocorre aqui e o que acontece nos EUA e na Europa. No entanto, talvez, algumas reflexões também sejam pertinentes à nossa realidade. Por aqui o número de doutores formados também aumentou muito na última década. Será que o país deve almejar a manutenção desse ritmo? Caso deva, até quando? A expansão das universidades brasileiras é capaz de absorver os que se formam? E sobre a qualidade dos doutores que estão sendo formados durante esse período de crescimento intenso? É o que se deseja? Com que perfil? Aqui no Brasil, em especial na área de biologia e/ou ciências médicas, há espaço para doutores fora da academia? De que tamanho é esse espaço? O convite à troca de idéias está feito.
Os artigos originais são:
doi:10.1038/472261a
doi:10.1038/472276a
doi:10.1038/472280a
doi:10.1038/nj7343-381a
Acrescento também links para textos escritos pelo Professor Roberto G. S. Berlinck (Instituto de Química da USP - São Carlos). Os posts dele comentam cada um dos artigos originais e fazem uma certa contextualização com o que vivemos por aqui.
http://quiprona.wordpress.com/2011/04/24/a-reforma-da-pos-graduacao-i/
http://quiprona.wordpress.com/2011/04/24/a-reforma-da-pos-graduacao-ii/
http://quiprona.wordpress.com/2011/04/25/a-reforma-da-pos-graduacao-iii/
http://quiprona.wordpress.com/2011/04/25/a-reforma-da-pos-graduacao-iv/
terça-feira, 26 de abril de 2011
O Cardiologista e a Imunologia
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Dica de vídeo: mudanças de paradigmas - biologia, tecnologia, aplicações médicas
- Susan Lindquist: palestra começa aos 02:30min (Heat shock proteins)
- Eric Lander: 22:00min (belo resumo de câncer como doença genética, genômica do câncer)
- Leroy Hood: aos 40:04min (P4 medicine: “predictive, preventive, personalized and participatory”)
domingo, 24 de abril de 2011
Journal Club - IBA: O papel das células dendríticas plasmocitóides na pele
As células dendríticas plasmocitóides (do inglês: Plasmacytoid dendritic cells- pDC), são uma população de células circulantes que expressam Toll-like receptor 7 e 9 (TLR7/TLR9) (aqui) e produzem grande quantidade de interferons do tipo I (IFNα/β) em resposta a infecção viral (aqui; aqui). Porém, a contribuição destas células na imunidade do hospedeiro não está totalmente esclarecida.
Recentemente, foram publicados dois trabalhos no Journal of Experimental Medicine abordando este assunto. Em um deles, Gregorio et al. mostraram que estas células estão ausentes em pele normal, porém são rapidamente recrutadas na pele danificada. Uma vez neste local, estas células produzem grande quantidade de IFNs tipo I que sinalizam para produção de outras citocinas como IL-6, IL-22 e IL-17, importantes no reparo da lesão. Para mais detalhes acerca do trabalho, clique aqui.
No outro trabalho, publicado por Guiducci et al, foi demonstrado que em animais suscetíveis à autoimunidade “(NBZxNBW)F1” também ocorreu um recrutamento de pDC para pele danificada, porém a constante ativação destas células via TLR7 e TLR9, levou ao desenvolvimento de lesões crônicas semelhantes àquelas observadas em pacientes com lúpus cutâneo. Quando bloquearam a ação das pDCs, seja por depleção ou bloqueio da sinalização via TLR7 e TLR9, o grau da lesão diminuiu, sugerindo um importante papel das pCDs nas doenças inflamatórias da pele, clique aqui.
Juntos, estes estudos sugerem que as pDCs servem como uma fonte inicial/transitória de interferons do tipo I, devido ativação de TLR7 e TLR9 por ácidos nucléicos endógenos e exógenos. Estas pDCs são importantes no controle da infecção viral no estágio inicial da infecção, além de promover o reparo do tecido lesionado diante de uma lesão aguda. No entanto, estas pDCs ativadas podem agravar a lesão e desencadear uma doença autoimune na pele em indivíduos suscetíveis.
Post de Gustavo Garcia; Luiz Gustavo Gardinassi; Thais Herrero.
sábado, 23 de abril de 2011
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Até onde vai a criatividade humana?
quinta-feira, 21 de abril de 2011
FELIZ PÁSCOA, IMUNOLOGISTAS
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Keystone Symposia: novas discussões sobre Immunoregulatory Networks
Foram mais de 26 horas de viagem de porta a porta, contado o tempo de voos, de aeroporto e os trajetos terrestres. Chegamos ao charmoso vilarejo de Brekenridge (Colorado), cercado por montanhas com florestas de pinheiros e picos nevados, e com suas casinhas coloridas de madeira, ainda “confeitadas” pela neve que resistia à chegada da primavera. Este ano o inverno teve muita neve. Assim, o clima de de ski continuava a todo vapor em Brekenridge!
Não sendo frequentadora de estações de ski, fiquei surpresa com o clima animado de brincadeiras, no “sobe e desce” das montanhas nevadas, com pessoas até fantasiadas, como se fosse um carnaval na neve. Imaginem que tinha uma pessoa fantasiada de gorila com os skis nos pés, e outro bem corajoso de bermuda e um colete aberto no peito sem camiseta (isso mesmo!!).
Foi o meu primeiro simpósio de Keystone em Immunoregulatory Networks.
Fomos eu e meu aluno Hernandez Silva, levando nosso trabalho sobre as células B na tolerância operacional, e lá encontramos meu ex-aluno Pedro e Enio, outro aluno do ICB-USP. Também foi uma alegria reencontrar meu grande amigo Juan Lafaille, grande cientista que tem contribuído de forma importante para o conhecimento sobre as células Treg.
A reunião foi muito boa e instigante!
Para quem não conhece, os Keystone Symposia têm uma longa história, com início nos anos ’70, então chamados de California Membrane Conference. Passaram por várias mudanças e tiveram diferentes nomes, como Keystone Symposia on Molecular and Cellular Biology (1990). Desde 1997, os Keystone Symposia funcionam como uma organização sem fins lucrativos, dedicados à promoção de conferências científicas de alto padrão, em todas as áreas das ciências biológicas e biomédicas . Vale a pena procurar algum de seu interesse e participar!
Mas, vamos à nossa reunião!
O formato da reunião privilegia o debate científico e a apresentação de dados não publicados. Não é permitido fotografar ou gravar as apresentações e sessões de pôsteres, visando justamente deixar os palestrantes mais à vontade para mostrar seus dados não publicados. Pouco mais de 300 participantes. Sempre, muita discussão após cada apresentação. Sessões de pôsteres muito animadas, com muita discussão, até passando das dez da noite. Foi uma reunião basicamente com cientistas dos Estados Unidos; pouquíssimas apresentações orais de outros países, Inglaterra, Alemanha, Suíça.
A proposta desta reunião específica em Immunoregulatory Networks foi, além de discutir os novos conhecimentos sobre as células T reguladoras, valorizar a discussão sobre outros componentes celulares e moleculares que contribuem para esta rede imunorreguladora e como essas conexões ocorrem. Parece-me ser este um momento em que há um enorme aprofundamento nos estudos das vias moleculares e, ao mesmo tempo, uma busca para compreender, de forma mais ampla, os múltiplos e complexos caminhos na rede de imunorregulação. Há um grande interesse sobre como eventos metabólicos, não exclusivamente imunológicos, podem ter grande impacto no direcionamento funcional das respostas imunes e nas vias imunorreguladoras.
Algumas apresentações que me chamaram atenção:
Diane Mathis (Harvard Medical School, EUA) abriu a reunião com Keynote Address falando sobre as células Tregs tissulares que infiltram diferentes tecidos, como a gordura, o músculo esquelético e outros. As Treg encontradas nos tecidos não considerados do sistema imune parecem ter diferentes propriedades moleculares das Tregs convencionais e interagem também com células do parênquima daquele tecido específico. Analisando as Tregs presentes no tecido adiposo, em modelos de camundongos ob (obese), seu grupo observou uma relação entre a diminuição de Treg na gordura e a resistência à insulina, sugerindo que a população de Treg da gordura tenha um papel neste processo patológico.
Jonathan Powell (Johns Hopkins University, EUA) fez uma palestra muito elegante abordando a desafiadora questão sobre como ocorre a integração molecular de múltiplos sinais do microambiente imunológico, determinantes no desfecho do engajamento do TCR e no direcionamento de diferentes fenótipos funcionais das células T. Seu grupo havia mostrado, anteriormente, que mTOR (Mammalian Target of Rapamycin, membro da família PI3-kinase) tem um papel fundamental na diferenciação das células T auxiliares. Na deficiência de mTOR as células T não se tornam efetoras e tornam-se células Treg FOXP3+. Utilizando modelos de camundongos com deleções específicas downstream nas vias de sinalização de mTOR, seu grupo verificou que a diferenciação de Th1 e Th17 é regulada pela via de sinalização mTORC1 dependente de Rheb, enquanto mTORC2 regula respostas Th2 e a geração de células CD8 efetoras. O papel de mTOR como uma via molecular integradora de sinais crucial no direcionamento de diferenciação de células T, função e metabolismo, parece abrir novos caminhos de investigação, sobre “tomadas de decisão” pelas células T e na resposta imune. A boa notícia é que o Powell fará esta mesma palestra no próximo congresso da SBI. Não percam!
Juan Lafaille (New York University, EUA) apresentou dados muito interessantes sobre diferenças moleculares entre as células Tregs naturais e as induzidas, em camundongos, e mostrou que a expressão de Neuropilina-1 (Nrp1) diferencia as naturais das induzidas. Parece haver uma cinética de expressão de Nrp1 nos timócitos Foxp3+ e a maioria das Tregs naturais Foxp3 hi expressam Nrp1. A função da Nrp1 nas nTreg ainda não é conhecida. Porém, foi discutido, após sua apresentação, que ela poderia atuar como um co-receptor para TGF-b. A boa notícia é que como a Nrp1 é expressa na superfície, pode ser útil para isolar as células T reguladoras naturais.
Transplantar e sincronizar
Projetos desenvolvidos em escola municipal carioca visam levar aluno a entrar num laboratório com olhar de pesquisador e entender o que é a metodologia científica.
Anísio Teixeira (1900-1971) é um dos educadores brasileiros mais respeitados e conhecidos. Foi um dos fundadores da Escola Nova, proposta do início do século passado que visava, entre outros tópicos, fomentar nos alunos uma maior capacidade de refletir sobre o que se aprendia – em vez de apenas memorizar o conteúdo.
Não à toa, dezenas de escolas pelo Brasil chamam-se Anísio Teixeira. E é em uma "Anísio Teixeira" que ocorre, há dois anos, uma lenta e gradual transformação da relação do aluno com a ciência.
O pontapé inicial foi o projeto Transplantando, idealizado por Mário Alberto C. Silva Neto, professor do Instituto de Bioquímica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBqM/UFRJ).
Em 2008, o comichão da ideia de transplantar as condições de um laboratório para dentro de uma escola atingiu Neto, que já participava ativamente do Curso de Férias promovido pela UFRJ para alunos do ensino básico. A falta completa de tempo para tocar o projeto fez com que ele tomasse a atitude mais prática possível.
"Pensei que, para o projeto andar, só haveria uma possibilidade: desenvolvê-lo em uma escola próxima de onde moro. E assim fiz", conta o professor, que vive no bairro da Ilha do Governador (RJ), onde também se encontra a Escola Municipal Anísio Teixeira.
Para a sorte de Neto, a Anísio Teixeira tinha uma diretoria totalmente aberta à sua ideia. No ano seguinte, o Transplantando já estava na escola.
Dezenas de alunos passaram a usufruir de um laboratório com boa estrutura para estudar e com professores aptos a ensinar. A temática? Tudo o que o aluno tem curiosidade de perguntar, mas com foco na área em que o bioquímico (e sua equipe) é especialista: as doenças tropicais transmitidas por insetos hematófagos. Em especial, a dengue.
Assista abaixo à conversa com Leonardo Cunha,
doutorando de Neto e responsável pelas aulas do Transplantando
A ideia do Transplantando vingou e, também em função do projeto, a Anísio Teixeira foi uma das dez escolas selecionadas para fazer parte em 2011 do Ginásio Experimental, iniciativa da prefeitura do Rio de Janeiro que prevê, justamente, a adoção de novas metodologias de ensino e o uso de tecnologia e experiências em sala de aula.
Alinhados ao Ginásio Experimental, os bioquímicos Neto, Leonardo Cunha e cia. propuseram à escola mudar o projeto de ciências de patamar. Agora, em vez de apenas transplantar o laboratório, eles querem sincronizar aquilo que é discutido no meio acadêmico e de pesquisa com o que é falado na escola.
Por isso, começou, no início deste ano letivo, uma nova proposta: o Sincronizando, que, nas palavras de Neto, "vai possibilitar, por exemplo, que o aluno discuta dentro do laboratório, como um pesquisador de verdade, um artigo que acabou de sair na Science ou na Nature".
Se vai sair algum novo cientista desse empreendimento do pessoal da bioquímica da UFRJ? Não se sabe. Mas já dá para dizer: as aulas serão mais divertidas e instigantes.