segunda-feira, 28 de março de 2011

Microbiota perde complexidade na senescência

Para comemorar nossa semana de aniversário de um ano do nosso Blog, temos hoje uma contribuição interessante da Professora Ana Maria Caetano de Faria da UFMG. Bom proveito e traga sua opinião!


Microbiota perde complexidade na senescência

Já sabemos há vários anos que o processo de envelhecimento se acompanha de uma perda global de complexicidade e de capacidade funcional. No sistema imune, por exemplo, ocorre uma redução progressiva na diversidade do repertório de linfócitos T na periferia à medida que envelhecemos. A diminuição da saída de linfócitos virgens/diversificados do timo e o a expansão oligoclonal de linfócitos T de memória comprometem a capacidade de reatividade imunológica dos idosos para novidades antigênicas. Essa perda de plasticidade funcional não ocorre aparentemente somente no sistema imune. Há relatos de que outros parâmetros biológicos tais como as variações na complexidade no eletroencefolograma (ECG), medida por uma estimativa de entropia multiescala (MSE), também estão reduzidas em idosos quando comparados aos jovens. (Takahashi et al, 2009. Clinical Neurophysiology, 120(3): 476-483).

Recentemente, o grupo de Wilhem de Vos e Claudio Franceschi mostraram que essa perda de complexidade relacionada ao envelhecimento não afeta somente o nosso organismo, mas também a microbiota associada a ele (Biagi et al, 2010. PLoS ONE, 5(5): e10667). Utilizando um Human Intestinal Tract Chip (HIT-Chip) e PCR quantitativo para rRNA 16s, esses autores analisaram a composição da microbiota de indivíduos de diferentes grupos etários (jovens, idosos e centenários). A composição microbiana da microbiota em indivíduos adultos jovens e idosos é bastante similar, mas difere significativamente daquela encontrada em centenários. Mais que isto, a diversidade das comunidades microbianas, medida pelo índice recíproco de diversidade de Simpson, é alta nos dois primeiros grupos, mas reduzida nos centenários. A frequência de Eubacterium limosium, por exemplo, está aumentada em até dez vezes nesses indivíduos.

Assim, o envelhecimento, ou talvez mais particularmente a senescência, parece associada a uma perda de complexidade biológica também no sistema funcional representado pela microbiota humana.


Ana Maria Caetano de Faria

Laboratório de Imunobiologia,

Depto. Bioquímica e Imunologia, ICB, UFMG.

2 comentários:

  1. Muito legal essa idéia. Talvez a bioquimica de nossas células velhinhas deixem de ser atraentes para algumas bacterias, fungos e afins; e assim mudamos de companheiros. Afinal nunca estamos sós, estamos sempre embebidos numa infinidade de microorganismos. E pelo visto, parece que vamos mudando o nosso "solvente" ao longo do tempo.
    Parabéns pelo post.

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  2. cada vez mais entendemos a forma como determinadas bactérias e suas moléculas regulam a homeostase dos tecidos digestórios.
    acredito que a perda da diversidade da microbiota tenha repercussão sobre doenças inflamatórias e tumorais que acometem indivíduos com idade avançada.
    no futuro talvez consigamos impedir o desenvolvimento de muitas doenças pela introdução de bactérias que ajudem a manter a homeostase tecidual.

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