segunda-feira, 21 de março de 2011

Gedankenexperiment

2011-MAR-20-Gedankenexperiment

A ilusão da “cabeça ôca” (hollow head illusion) tem muito exemplos no YouTube, vários deles com um dragãozinho de papel (moving dragon) recortado e dobrado. Um dos exemplos mais interessantes desta ilusão é narrado por Richard L. Gregory, um neurobiólogo da visão que investiga ilusões (1, 2). O clip mostra uma máscara oca de Charles Chaplin a girar (3; aqui). Quando começa a surgir a parte ôca da mácara, imediatamente, temos a nítida impressão de que o conjunto passou a girar na direção oposta e mostra ainda uma segunda face convexa. Gregory afirma que isto ocorre porque o cérebro se recusa a ver uma “face côncava” depois de ser exposto a milhões de faces convexas.

Um “experimento mental”, às vezes chamado de Gedankenexperiment, o termo equivalente germânico, é um exercício que “testa” mentalmente uma hipótese ou princípio. Dizem que Galileo Galilei não subiu, realmente, na torre de Pisa para deixar cair objetos de pesos diferentes, para demonstrar que eles caíam com a mesma velocidade: fez um Gedankenexperiment: Imaginou que deixava cair um objeto leve ligado por um barbante a um objeto pesado. Se o objeto leve caísse mais lentamente, ele puxaria o objeto pesado para cima, e o conjunto dos dois cairia mais devagar que o objeto pesado sozinho - e isto seria absurdo. Às vezes é possível testar a experimentalmente (com objetos) a hipótese, outras vezes não, mas a intenção de um Gedankenexperiment é testar a plausibilidade da hipótese, ou princípio.

Hoje fiz um Gedankenexperiment que achei valioso com a ilusão da “cabeça ôca” (hollow head illusion), utilizando o dragãozinho de papel que tem a cara côncava, em vez de convexa. Quando a gente se mexe lateral ou verticalmente, o dragão parece nos seguir girando a cabeça (inicialmente, fechar um dos olhos, facilita a ilusão). Há vários clips sobre isto no Youtube (under "moving dragon”) e, em (4; aqui) pode-se imprimir um molde do dragão para recortar. Em geral, as pessoas acham a ilusão apenas curiosa; algumas, não conseguem sequer ver o efeito. É raro que levem isto mais a sério e se intriguem com o fato de que o efeito ocorre exatamente porque nosso cérebro se recusa a enxergar uma face côncava. E, como se recusa a ver isto, transforma a face côncava em convexa e, então, é forçado a “corrigir” as distorções geradas pelo movimento do dragão. São estas “correções” que geram a ilusão de que a cabeça gira. Na realidade, a cabeça está imóvel.

Para testar esta hipótese (meu Gedankenexperiment), colei em uma das orelhas do dragãozinho um pequeno cartaz (onde escrevi "Fixo"). A sensação foi incrível, porque a cabeça (parecia) roda(r) enquanto o ostentava o cartazinho que permanecia fixo. Pura "epistemologia experimental".


(1) Gregory*, R.L. (1993) Odd perceptions. Routledge, London.
(2) Gregory*, R.L. (1994) Even odder perceptions. Routledge, London.

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