quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Imunorregulação da gestação: “conversa” entre mãe e feto

A evolução da gestação, o nascimento do bebê e a produção de leite para alimentá-lo constituem uma seqüência natural e bem planejada para acolher um novo ser. Durante a gestação, o corpo feminino sofre diversas alterações neuroendócrinas, físicas e também em seu perfil imunológico. O sistema imune materno está em íntimo contato com o feto, que pode ser comparado a um transplante, pois possui 50% de material genético paterno, tornando-se estranho ao organismo. Em 1953, o cientista e prêmio Nobel Peter Medawar (1915-1987) foi o primeiro a formular o conceito de que o embrião se comporta como um transplante no organismo materno estando, portanto, vulnerável à rejeição ou tolerância imunológica. Sendo assim, como o feto não é rejeitado pela mãe e quais os mecanismos imunorreguladores atuantes neste processo? A relação harmoniosa entre mãe e filho envolve a interação de aspectos da imunologia celular e humoral. Dentre os vários componentes imunológicos envolvidos na gestação, as células NK uterinas, células T regulatórias e a molécula HLA-G são mediadores centrais no controle de uma gestação de sucesso. Da mesma forma, o padrão de secreção de citocinas direcionado para o tipo TH2 e a inibição da proliferação de certos tipos celulares são aspectos essenciais no desenvolvimento da gestação. Por outro lado, é interessante notar que algumas das complicações gestacionais como a pré-eclampsia estão intimamente relacionadas à ocorrência de estresse e ansiedade, fatores estes que, afetam o equilíbrio do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), alterando diretamente os níveis de hormônios como o cortisol, influenciando a imunidade celular e a qualidade de vida da gestante. Situações de estresse afetam até 18% de todas as gestações e mulheres estressadas apresentam mais chances de desenvolver complicações gestacionais que podem afetar o bebê inclusive no período pos-natal. Tratando-se dos componentes imunorreguladores que atuam na gestação, as células T regulatórias estão presentes no ambiente materno além de serem geradas no feto, ajudando na prevenção de uma resposta imune materna deletéria contra a presença do feto, como demonstrado por Joseph McCune (Science 2008). Já o perfil de citocinas TH2, principalmente através da secreção de IL-10, auxilia na manutenção de um ambiente menos pro-inflamatório, o que favorece um microambiente imunológico mais regulado frente à presença de um feto semialogênico. Porém, o inicio da gestação é marcado por intensa vascularização e proliferação celular – visando o desenvolvimento do concepto e placentação - desta forma, a presença de citocinas pró-inflamatórias como TNF-alfa e IFN-gama são de extrema importância nesta fase inicial. É fundamental a regulação desta resposta inflamatória nas fases seguintes da gestação. Considerando que a gravidez pode ser influenciada pelas inúmeras alterações imunológicas e neuroendócrinas que ocorrem no corpo materno durante este período, torna-se de grande importância conhecer os parâmetros imunológicos, neuroendócrinos e a cronologia destas alterações ao longo da gestação. Este conhecimento pode auxiliar na prevenção de perdas gestacionais associadas a respostas imunológicas excessivas ou inadequadas, levando ao desenvolvimento de uma gestação de sucesso, tanto para a mãe quanto para o bebê.

Dra. Priscila Vianna, Pós-doutoranda no Laboratório de Imunogenética, Departamento de Genética da UFRGS

6 comentários:

  1. Parabéns Priscila pelo Texto. Vale lembrar também que depois que os filhos nascem nosso sistema imunológico é bastante estimulado pelas inúmeras viroses e infecções bacterianas trazidas da escola para dentro de casa. Em breve você verá. Bjs, Kika

    ResponderExcluir
  2. Recomendo um artigo recente do David Baltimore sobre o tema em especial o comportamento das Tregs e os antigenos fetais.

    http://www.pnas.org/content/107/20/9299.abstract?sid=45bd2cc7-f3b5-4027-a7f6-6a9e7aadbc0a

    ResponderExcluir
  3. Sem dúvida precisamos conhecer melhor os mecanismos imunoreguladores durante a gravidez. Parabéns pelo texto e pela linha de pesquisa. A Kaila também aprovou. Bj, Karen

    ResponderExcluir
  4. Olá, blogueiro (a),
    Salvar vidas por meio da palavra. Isso é possível.
    Participe da Campanha Nacional de Doação de Órgãos. Divulgue a importância do ato de doar. Para ser doador de órgãos, basta conversar com sua família e deixar clara a sua vontade. Não é preciso deixar nada por escrito, em nenhum documento.
    Acesse www.doevida.com.br e saiba mais.
    Para obter material de divulgação, entre em contato com comunicacao@saude.gov.br
    Atenciosamente,
    Ministério da Saúde
    Siga-nos no Twitter: www.twitter.com/minsaude

    ResponderExcluir
  5. Oi Priscila
    Parabens pelo artigo! Imagino que muitas das respostas a perguntas que estamos fazendo agora podem ser respondidas se entendermos melhor os termos de uma gravidez.
    Parabens aos organizadores do SBlog! Excelente iniciativa!

    um abraco
    Soraya Gaze

    ResponderExcluir
  6. Excelente!!! Foi ótima ajuda no meu trabalho de Imunologia na Gravidez!!! Parabéns!!!

    ResponderExcluir