Citoaderência de Plasmodium vivax

Recentemente o Professor Fabio Costa, da UNICAMP, publicou um trabalho bonito sobre a citoaderência de Plasmodium vivax. Para fomentar a discussão acerca da pesquisa sobre esse importante parasita, eu solicitei a ele um pequeno texto para enfatizar as limitações relacionadas ao estudo desse parasita e a importância da pesquisa para compreendermos a patogênese da malária.

Segue o post do nosso colaborador eventual do SBlogI.

Por Fabio Costa.



Malária é a doença parasitária mais importante do mundo, acometendo 300-500 milhões de indivíduos anualmente e levando ao óbito 1-2 milhões destes pacientes. Citoaderência de eritrócitos infectados pelo Plasmodium falciparum (EiPf) na microvasculatura endotelial é considerada como fator primordial no processo patológico desencadeado por esta espécie de parasita. Durante vários anos tem sido considerado que o Plasmodium vivax, um parasita também globalmente distribuído e o principal responsável dos casos de malária no Brasil, seria menos virulento que o P. falciparum por não ser capaz de aderir no endotélio microcapilar. Este fato levou a percepção de que malária vivax seria uma forma “benigna” da doença. Ainda; associada a esta noção, o fato de não ser possível o cultivo in vitro desta espécie de parasita acarretou num certo abandono de pesquisas no que tange o estudo da biologia e patologia de P. vivax e no desenvolvimento de drogas e vacinas eficazes. No entanto, recentes relatos de casos de complicações graves devido à infecção por P. vivax tem desafiado esta visão axiomática pré-estabelecida. De fato, no Brasil apesar do número total de casos de malária ter diminuído nos últimos anos, um aumento incomum do número de hospitalizações de pacientes com malária vivax vem sendo observado. Em artigo recentemente publicado (Carvalho et al., 2010) mostramos que eritrócitos infectados pelo P. vivax (EiPv; figura acima) coletados de mais de 30 pacientes portadores de malária vivax da cidade de Manaus apresentam capacidade adesiva na placenta humana e em células endoteliais de pulmão humano e de cérebro de macacos Saimiri. Ainda, esse estudo mostra que ligantes protéicos na superfície de EiPv são capazes de mediar esta adesão a receptores endoteliais (p. ex; ICAM-1 e condroitina sulfato A- CSA) comumente associados a complicações de malária na gravidez, a malária cerebral e síndrome respiratória aguda. Estas observações abrem perspectivas para um aprofundamento de estudos relacionados à patologia de infecções pelo P. vivax e nos levam a tentar descobrir marcadores relacionados e estas complicações e como desenvolver vacinas e medicamentos capazes de controlar a morbidade em decorrência desta espécie de parasita altamente negligenciada.