segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Cientista busca “vacina” contra estresse

Quando vi a chamada para uma reportagem sobre uma vacina contra estresse, na capa da edição deste mês da revista Wired, não resisti e fui logo ver de quem o jornalista estava falando. Logo pensei: vacina contra estresse?

Vacina não, mas tratamento vaccinelike, sim. Usando terapia gênica, Robert Sapolsky, pesquisador da Universidade de Stanford, traçou um ambicioso objetivo: desenvolver um tratamento profilático contra estresse crônico.

De-stressing Image, Cortesia Jools Gowans (Flickr).

Estresse tem sido relacionado não só ao aumento de susceptibilidade a gripes comuns, mas principalmente ao agravamento de uma série de doenças, como Alzheimer, desordens depressivas, ataque cardíaco, diabetes, e por aí vai. Sapolsky defende que é preciso superar a fase de tratar os efeitos colaterais do estresse e passar a atacar o problema diretamente no cérebro. O alvo? Glicocorticoides, hormônios liberados durante a resposta ao estresse. Sabemos que tais hormônios nos deixam em estado de alerta, aumentam rapidamente os níveis de glicose no sangue e conseguimos, assim, “fugir rapidamente do caçador”, reagir a uma situação de perigo. Os imunologistas bem sabem também que os glicocorticóides são potentes imunosupressores. No entanto, a liberação crônica de glicocorticóides na corrente sanguínea tem efeitos tóxicos, principalmente no cérebro: decréscimo da neurogênese, dendritos encolhem.

Segundo a reportagem, Sapolsky começou a pensar em tal tratamento em 1992, no auge do otimismo com a terapia gênica. Agora, o seu tratamento envolve um coquetel de moléculas carreadas por vírus da herpes (Bcl-2, anti-apoptótico; SK2, canal de potássio ativado por cálcio; 11-beta-hydroxysteroide desidrogenase, enzima que degrada glicocorticóides; entre outras) e aplicadas diretamente no cérebro de ratos. O tratamento diminui o dano cerebral causado pelo estresse, e diminui a ansiedade. Tudo por enquanto foi testado apenas em ratos. O pesquisador deixa claro que a terapia ainda está longe de ajudar pacientes. Mas será que um dia “vacinas” contra estresse farão parte do calendário oficial de vacinação?

Vale a leitura da reportagem não só pelos conselhos para reduzir o estresse – baseados em dados científicos -, mas também para saber um pouco mais sobre a vida deste interessante cientista, que começou estudando o comportamento de babuínos na África e observou o quanto o nível de estresse é dependente do status social. É o estresse determinado pela hierarquia social. Veja também um trecho do vídeo produzido sobre ele pela National Geographic.

Um comentário:

  1. Houve problemas com a divulgação desta vacina por jornais sensacionalistas. Veja:
    http://www.wired.com/wiredscience/2010/08/the-brain-eating-vaccine-conspiracy/

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