sexta-feira, 25 de junho de 2010

Será que a dificuldade em diferenciar fagócitos mononucleares é só um problema meu???

Neste mês foi publicado na Nature Reviews Immunology um artigo levantando um problema que pesquisadores vem enfrentando, muitas vezes sem saber, ao trabalhar com populações de fagócitos mononucleares. Neste comentário, cinco super-experts, Frédéric Geissmann, Siamon Gordon, David A. Hume, Allan M. Mowat e Gwendalyn J. Randolph, dão suas opiniões sobre a heterogeneidade no sistema fagocítico mononuclear e a importância em se definir melhor suas populações para pesquisas futuras.
Em Unravelling mononuclear phagocyte heterogeneity, Geissmann aponta que as células mielóides não são mais heterogêneas do que a maioria dos tipos celulares. No entanto, muitas confusões são geradas com a utilização de marcadores fenotípicos inespecíficos. Um bom exemplo é o CD11c, que pode não só ser expresso por células dendríticas, mas também por alguns macrófagos teciduais, monócitos ativados e até mesmo algumas células NK e eosinófilos. Hume também critica a utilização de CD11c como único marcador para a identificação de DCs. Com isto, recrimina o uso do camundongo CD11c-DTR (diphtheria toxin receptor) para depleção seletiva de DCs. Este tópico também é abordado por Hume em um artigo de revisão, Macrophages as APC and the dendritic cell myth, publicado pelo Journal of Immunology em 2008.
Para Randolph os cientistas erram quando assumem que a caracterização fenotípica das DCs e sua distinção dos macrófagos nos órgãos linfóides, podem ser aplicadas a todos os outros tipos teciduais. Além disto, geralmente não são consideradas as alterações fenotípicas que sabidamente ocorrem durante um processo inflamatório em comparação a condições homeostáticas. Esta opinião é compartilhada por Siamon Gordon, que aponta que parte da confusão é gerada pela adaptabilidade e plasticidade dos macrófagos. Assim, em função destas células expressarem um enorme repertório de receptores e, portanto, sofrerem intensa ação dos microambientes em que se encontram, apresentam seus fenótipos modulados. Para Mowat, muitas das subpopulações de DCs não são claramente definidas, além de suas obtenções e caracterizações serem realizadas por diferentes métodos, por diferentes grupos de pesquisadores. Subpopulações têm sido estabelecidas em função de suas habilidades em induzir por exemplo diferenciação de células Th17, células T reguladoras, ou produzir TNF- α, IL-23 e NO. No entanto, muitos dos conceitos precisarão ser re-interpretados, pois, por muitas vezes, as população utilizadas para estas caracterizações foram pré-selecionadas arbitrariamente por marcadores que podem ser expressos tanto por DCs quanto por macrófagos.

As opiniões destes cientistas de renome também são reveladas em outras perguntas como:

- Existem bons marcadores fenotípicos para macrófagos e DCs, ou suas distinções deverão ser baseadas somente em suas funções? Se o último for verdade, o que um macrófago faz que uma DC não faz e vice-versa?

- Quais as condições de cultura que um pesquisador deve usar para gerar macrófagos e células dendríticas in vitro?

- Qual é a importância de se definir macrófagos e DCs para pesquisas e potenciais terapias futuras?

Pessoalmente concordo com Randolph quando ele diz queue “DC and macrophage biologists don't talk with each other enough. Indeed, if a cell is called a DC in a paper, I think that it is less likely that a macrophage biologist will read it and vice versa”.
doi:10.1038/nri2784

2 comentários:

  1. Parabens Lis! Excelente post. To enfrentando esse problema de caracterizacao adequada aqui tambem.
    Abraco

    ResponderExcluir
  2. Lis...isto porque vc considerou apenas a dificuldade de distinguir macrófagos e DCs. A diferenciação de células B-1 em fagócitos é sempre desconsiderada, apesar dos trabalhso publicados, acredito que se as hipoteses fossem feitas sem descartar esta outra fonte para fagócitos vários conceitos deveriam ser repensados. Como disse o próprio Siamon Gordon, durante o período que passei em seu laboratório, a existência deste fagócito mudaria alguns conceitos de patologia.

    ResponderExcluir