quarta-feira, 26 de maio de 2010

Cuidado com os fungos: anuros estão sendo extintos!!!!



por Fabrine Sales Massafera Tristão
(doutoranda, Imunologia Básica e Aplicada, FMRP, USP)




Os anuros (latim científico: Anura) constituem uma ordem de animais pertencentes à classe Amphibia, que inclui sapos, rãs e pererecas. A distribuição de anuros vai desde os trópicos até regiões subárticas, sendo que a maioria das espécies pode ser encontrada em florestas tropicais. Primeiros vertebrados a caminhar na Terra, os anuros resistiram às diversas glaciações e não sucumbiram à catástrofe que dizimou os dinossauros. Hoje, aproximadamente 200 milhões de anos depois de deixarem as águas, algumas de suas espécies estão desaparecendo. A diminuição de seus exemplares, ainda que mal notada pelos leigos, põe em risco o delicado equilíbrio ecológico do planeta. Quando se fala em extinção, costuma-se ter em mente a grande interferência do homem na natureza. Entretanto, um outro fator disseminante é descrito: a quitridiomicose. Esta doença que já dizimou centenas de espécies de anuros por todo o mundo, é causada pelo fungo dulçaquícola Batrachochytrium dendrobatidis, o qual ataca a pele dos anfíbios. O mecanismo pelo qual o fungo se torna uma doença fatal não é ainda conhecido. Pesquisadores sugerem que o fungo produza toxinas letais ou que a infecção promova um funcionamento anormal da pele, a qual é imprescindível para a sua homeostase hídrica e gasosa, e também para a sua defesa imunológica. A espessura normal da camada córnea está entre 2 a 5 μm, mas a infecção pode torná-la mais espessa, podendo chegar até 60 μm (PARRIS, 2006). A quitridiomicose é transmitida pelo contato direto entre os animais ou por dispersão dos esporos no ambiente, principalmente pela água e lama (SILVEIRA, 2006). O diagnóstico da quitridiomicose é realizado através de anticorpos policlonais produzidos contra B. dendrobatidis, como relatado por Berger e colaboradores, em 2002. Para investigar a patologia da quitridiomicose, amostras de sangue foram coletadas de anuros infectados, doentes e não infectados. Em uma rã em estágio grave da doença, o plasma apresentava reduzida quantidade de sódio, potássio, magnésio e concentrações de cloreto. Os resultados de albumina plasmática, hematócrito e uréia indicaram uma hidratação inalterada, demonstrando que o desequilíbrio osmótico é causado pela perda de eletrólitos (VOYLES et al, 2007). Ainda, uma equipe de investigadores da Universidade de Otago, em Dunedin, Nova Zelândia, anunciou que rãs banhadas com cloranfenicol tornam-se resistentes à quitridiomicose. Embora a pandemia de quitridiomicose ocorra desde a década de 1980, somente agora a dinâmica da mesma foi revelada. O artigo Dynamics of an emerging disease drive large-scale amphibian population extinctions, publicado em Maio/2010 na Pnas por Vredenburg e colaboradores (link: www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas.0914111107) descreve a invasão e distribuição da quitridiomicose em duas espécies de rãs na Sierra Nevada, Califórnia. Os autores observaram que a doença é letal quando invade uma população que até então não estava exposta, de modo semelhante à epidemia de varíola que matou milhões de pessoas nos séculos 17 e 18. Todavia, a mortalidade só ocorre após atingir um limiar infeccioso, cujo limite é definido pelo número específico de esporos fúngicos por anuro. Tendo essas informações em mãos, cabe agora aos grupos de conservação tentar impedir que a infecção nos anuros alcance este ponto crítico, evitando a extinção de novas espécies. Vamos torcer...


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