A ciência não se resume em uma
coleção de observações, medidas e fórmulas matemáticas complexas; a ciência
também é uma fonte de percepções profundas sobre o modo como as coisas são no
mundo. É evidente que a procura por uma visão significativa do mundo não está
confinada à ciência. Ela é, em todos seus aspectos, fundamental para nosso bem
estar. Entre os muitos caminhos disponíveis para nós, o caminho da ciência
sugere uma maneira confiável de se olhar para o mundo – e para nós mesmos no
mundo. Mas olhar para o mundo através do prisma da ciência moderna e em
particular a partir da visão de um sistema imune natural não tem sido
fácil. É difícil entender o que conecta o universo imunológico físico com o
mundo vivo, o mundo vivo com o mundo da sociedade violentada, e o mundo da
sociedade violenta com os domínios da mente e da cultura [1].
O caminho da ciência indica que
devemos buscar uma imagem do mundo mais integrada e unitária na zona de
conflito. Um empreendimento particularmente ambicioso veio à tona na física quântica
em anos recentes: a tentativa de se criar uma teoria de tudo.
Uma teoria integral do sistema
imune (TISI) nos aproximaria do entendimento da verdadeira natureza de
todos os fenômenos imunológicos que existem e evoluem no espaço e no tempo, sejam
eles moscas, camundongos ou homens – uma visão de que precisamos muito nestes
tempos de mudança acelerada e desorientação cada vez maior. Mas quais seriam as
abordagens para uma genuína TISI?
A simulação de estruturas complexas
por meio de computador demonstra que a complexidade imunológica é gerada, e
pode ser explicada, a partir de condições iniciais básicas e relativamente
simples segundo os físicos (não para mim, carente de formação em matemática). Não entendo nada sobre autômatos celulares de
John Neumann e sua relação com algoritmos – essa é a base de todas as
simulações feitas por meio de um computador, fascinante!
A mudança de paradigma é outra
abordagem em busca de uma TISI e é impulsionada pelo acúmulo de observações que
não se encaixam nas teorias aceitas, e não se pode fazer com que se encaixem simplesmente
ampliando-se essas teorias. O desafio consiste em descobrir os conceitos fundamentais,
e fundamentalmente novos, que formam a substância do novo paradigma. Mas não é
nada fácil, uma teoria do novo paradigma precisa permitir aos cientistas
explicar todas as descobertas que a teoria anterior abrange e também precisa
explicar as observações anômalas. Ela precisa integrar todos os fatos
importantes em um conceito mais simples e, no entanto, mais abrangente e
poderoso (Einstein fez isso na física na virada do século 20) [1].
Meu filho entrou no escritório para
entregar um “porta retrato”, presente dos dias dos pais, bacana, feito por ele na
sala de aula em segredo absoluto durante a semana passada. E me fez lembrar que
tudo começa com uma única célula. A primeira célula divide-se em duas, e as
duas em quatro, e assim por diante. Quarenta e sete duplicações depois, temos mais
ou menos dez mil trilhões de células em nosso corpo e estamos prontos para a
vida como um ser humano. Imagina, uma célula como a descrita recentemente aqui
no Blog pela Grace [2], com características únicas e surpreendentes ao
consultório imunológico. Para construir um protótipo celular mais simples, por
exemplo, um lêvedo, seria necessário miniaturizar o mesmo número de componentes
de um Boeing 777 e encaixá-los numa esfera com apenas cinco micra de diâmetro.
Depois seria preciso convencer aquela esfera a se reproduzir [3]. As células
humanas são mais fabulosas em relação às de lêvedo e, portanto mais fascinantes
e desafiadoras para a compreensão do seu funcionamento em qualquer consultório imunológico.
Mais peças para os quebra-cabeças que
envolvem uma TISI – o organismo vivo apresenta extraordinária coerência: todas as
suas partes são multidimensionalmente conectadas com todas as outras partes de
maneira dinâmica e quase instantânea. O organismo também é coerente com o mundo
ao seu redor: o que acontece no ambiente externo ao organismo é refletido de
várias maneiras em seu ambiente interno [1].
Aceito que a base para uma TISI
precisa ter a percepção aguçada da interconectividade dentro do organismo, bem
como entre organismos, e a do organismo com o ambiente, como indica Marco
Bischof em suas reflexões sobre as fronteiras da biofísica [1].
Referências:
1-Laszlo E. A Ciência e o campo
Akáshico: uma teoria integral de tudo. Cap. 1, 2 e 3. São Paulo: Cultrix, 2008.
2-Silva, J. S. Terapia quem sou eu. Grace K. Silva (Pós-Doc)
FMRP-IBA. SBIlogI 10/08/2013.
3-Byson, B. Breve história de quase
tudo. Parte IV (A vida propriamente dita), Cap.24 (Células). São Paulo:
Companhia das Letras, 2005.
’ Para construir a célula de levedo mais básica, por exemplo,seria preciso miniaturizar o mesmo número de componentes de um Boeing 777 e encaixá-lo numa esfera com apenas cinco mícrons de diâmetro.Depois,seria preciso persuadir aquela esfera a se reproduzir” a) A que elementos das células o autor está se referindo quando fala dos componentes do Boeing 777? Respostas As organelas.
ResponderExcluirPor que o autor diz que ainda”seria preciso persuadir aquela esfera a se reproduzir”?
Resposta- porque as células se reproduzem.