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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Plaquetas no recrutamento de monócitos na leishmaniose




Há aproximadamente 8 anos, em 2003, o Dr. Frederic Geissmann iniciava sua história na descrição de importantes subpopulações de monócitos murinos, em um belo trabalho publicado na Immunity. De lá para cá foram vários trabalhos em revistas como Science, JEM, Plos Medicine, dentre outras. Basicamente estas células foram diferenciadas umas das outras pela expressão de um marcador de superfície muito comum de neutrófilos, chamado GR1. Geissmann, na ocasião de seu pos-doutoramento na New York University, descreveu, junto ao Dr. Dan R. Littman que entre os monócitos murinos existiam duas subpopulações com funções e fenótipos diferentes. Os monócitos GR1 positivos foram caracterizados como inflamatórios pelo fato de migrarem para locais de estímulo inflamatório. Os GR1 negativos ou com baixa expressão desta molécula, foram descritos como monócitos residentes, por serem responsáveis pela substituição de macrófagos residentes em tecidos em homeostase. Mais tarde, em 2008, em um trabalho na Science, Geissmann mostrou que estas células também apresentam um comportamento muito interessante realizando o patrulhamento dos vasos sanguíneos, aderindo-se a eles e “engatinhando” sobre o endotélio mesmo contra o fluxo sanguíneo, a espera de um sinal de perigo. Assim, quando detectam este sinal, estes monócitos rapidamente adentram o tecido estimulado. E por isso foram chamados de monócitos patrulhadores. Após estes belos trabalhos, vários outros autores se enveredaram no estudo dos chamados monócitos inflamatórios, mostrando sua importância em infecções por Toxoplasma gondii, Brucella melitensis, West Nile virus, Leishmania spp., dentre outros. Dentre estes autores que resolveram se aventurar no estudo destas subpopulações, está o grupo do Dr. David Mosser, da University of Maryland, que já em 2007 publicou um trabalho com uma de suas pós-doutoras (Dalit Strauss-Ayalli), revisando a caracterização fenotípica destas populações, além de uma breve apresentação de resultados preliminares sobre a participação destes monócitos durante infecção por Leishmania major em camundongos. Dando continuidade então a estes trabalhos, estive no laboratório do Dr. Mosser por quase 3 anos e na semana passada publicamos o resultado dos nossos achados no Journal of Experimental Medicine. Neste trabalho descrevemos que a subpopulação de monócitos inflamatórios é capaz de migrar rapidamente a locais de infecção por L. major, como a cavidade peritoneal ou a pele, mesmo antes que neutrófilos. Nestes locais, estas células produzem grandes quantidades de espécies reativas de oxigênio sendo capazes de eliminar os parasitas em quase sua totalidade. O mais inusitado é o mecanismo pelo qual estas células são capazes de migrar em apenas meia hora para o local da infecção. A Leishmania após inoculada na pele, rapidamente ativa o complemento, que ativa plaquetas, que por sua vez se agregam umas as outras e também aos parasitas (veja o vídeo abaixo). As plaquetas ativadas liberam PDGF que ativa células ao redor da lesão, como fibroblastos, células do endotélio e da musculatura lisa, fazendo com que estas liberem rapidamente a quimiocina CCL2 (MCP-1) atraindo desta forma as células GR1+ para o local da infecção. Ensaios in vitro mostraram que as plaquetas são ativadas imediatamente após a exposição aos parasitas, na presença de soro contendo complemento, e que em 10 minutos já é possível a detecção de PDGF e CCL2 na pata de camundongos infectados com L. major. Sendo assim, descrevemos um importante papel para os monócitos inflamatórios durante a infecção por L. major, que inclui a participação de plaquetas e a rápida migração destas células para o local da infecção onde são capazes de, fagocitando ou não, matar os parasitas.

Goncalves R, Zhang X, Cohen H, Debrabant A, Mosser DM. Platelet activation attracts a subpopulation of effector monocytes to sites of Leishmania major infection. J Exp Med. 2011 May 24.

Post por Ricardo Gonçalves, professor visitante da Universidade Federal de Ouro Preto.


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6 comentários:

  1. Ricardo,
    parabéns pelos belíssimos resultados!

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  2. Oi Ricardo, parabéns pelo artigo! Trabalho maravilhoso! Os neutrófilos estão fora de forma, viva os bem treinados monócitos inflamatórios! :)

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  3. Obrigado Mineo, Priscila e Bruno!
    Obrigado pela força !
    Priscila, eu tenho que admitir que gosto muito de imunidade inata, ainda mais quando relacionada a monócitos e macrófago. Mas não podemos nos esquecer que todas as células tem o seu papel. E os neutrófilos tem papel fundamental em diversos processos infecciosos, inclusive já relatados muito bem na leishmaniose. Acredito mais em um sinergismo do que qualquer outra coisa!

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  4. Parabéns pelo trabalho,os resultados são bem interessantes.
    Embora o trabalho ressaltado no post seja com monócitos inflamatórios,os monócitos patrulheiros foram assunto sobre as diferenças nas subpopulações de monócitos, em nosso journal aqui no IBA/FMRP. Apresentamos um trabalho publicado pelo Dr. Frederic Geissmann, relatando o papel de monócitos CD14dim em humanos e sua relação com doenças auto-imune e receptores do tipo Toll-like.
    O artigo relata também, uma similaridade entre monócitos de patrulha murino e humano na expressão de alguns genes.
    Se alguém tiver o interesse,segue abaixo a referência.

    Human CD14dim Monocytes Patrol and Sense Nucleic Acids and Viruses via TLR7 and TLR8 Receptors. Immunity 33, 375–386, September 24, 2010.

    Abraços
    Thiago Malardo
    Doutorando IBA/FMRP

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  5. Acabei de ver que outro blog de ciência, o Totum, tem um post de hoje sobre o trabalho do Ricardo. Vejam em:
    http://limi-lip.blogspot.com/2011/06/ativacao-de-plaquetas-monocitos.html

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