Arpaia e colaboradores (2011)
apresentaram fascinantes e inesperados resultados que foram publicados no
respeitado periódico Cell em 2011 envolvendo a sinalização mediada por
receptores do tipo Toll na resposta imune inata à infecção pela bactéria
intracelular Salmonella thyphimurium.
O entendimento de como os patógenos são reconhecidos pelo sistema imune inato
ou como estes conseguem evadir do sistema imune do hospedeiro é fonte de muitos
estudos ao redor do mundo. E estes são temas recorrentes nas publicações do
grupo do Dr. Gregory Barton da Universidade da Califórnia, Berkeley. Os
surpreendentes resultados obtidos pelo grupo, de que a S. thyphimurium é capaz de utilizar da sinalização mediada pela
imunidade inata para induzir a sua virulência foi alvo de uma quebra de
paradigma da resposta imune inicial mediada pelos TLRs.
Já que os TLRs são capazes de
reconhecer uma gama de diferentes padrões moleculares associados aos patógenos
(PAMPs) para induzir uma resposta imune efetiva contra as infecções, um
importante questionamento feito pelo grupo foi de como tais patógenos são
capazes de responder a esta forte pressão de seleção mediada pela sinalização
mediada por estes receptores. Como vários TLRs já foram descritos como
receptores capazes de reconhecer a Salmonella, o grupo chefiado pelo Dr. Barton
fez diferentes cruzamentos entre camundongos nocautes para TLRs para obter
camundongos que fossem nocautes para múltiplos TLRs. Trabalhos anteriores já
haviam reportado o papel das moléculas adaptadoras que induzem a sinalização
dos TLRs na resposta contra a infecção por S.
typhimurium utilizando camundongos nocaute para a molécula MyD88. Contudo,
um viés é introduzido em tais experimentos já que tal adaptador não é exclusivo
da sinalização mediada por TLRs. MyD88 também está associado a sinalização
mediada por receptores de algumas citocinas como, por exemplo, o receptor de
IL-1β. Sendo assim, a utilização de
camundongos deficientes para múltiplos TLRs poderiam ser mais informativos
sobre a sinalização mediada por esses receptores do que quando comparada a
utilização de camundongos deficientes somente para MyD88.
Os resultados de infecção em modelo
murino demonstraram resultados muito interessantes. Camundongos duplo nocautes
para TLR2 e TLR4 foram extremamente suscetíveis à infecção por S. typhimurium enquanto camundongos
nocaute para os TLRs 2, 4 e 9 (triplo nocaute) foram mais resistentes. Como a
replicação de salmonella em macrófagos é importante para a infecção sistêmica
desta bactéria no hospedeiro, Arpaia e colaboradores analisaram in vitro o perfil de replicação
intracelular desta bactéria. O crescimento intracelular corroborou os
resultados obtidos in vivo aonde a
falta da uma sinalização extra mediada pelos TLRs nos macrófagos proveniente
dos camundongos triplo nocaute preveniu a replicação bacteriana
intracelularmente.
Utilizando microscopia, os autores
observaram que a salmonella é capaz de formar um nicho replicativo. Para tal
evento ocorrer, a indução de uma série de genes presente na ilha de patogenicidade
2 de salmonela, ou SP-2, é requerida. Esta ilha induz a expressão de um sistema
de secreção do tipo III que é capaz de injetar proteínas efetoras e de
virulência do nicho de replicação bacteriano para o citoplasma do hospedeiro
que por sua vez tornará os fagossomos contendo a salmonella em um vacúolo com
características de um ambiente menos hostil para a bactéria.
Reconhecidamente, a acidificação dos
fagossomos é um importante indutor da expressão de SP-2. Logo, algumas
suposições sobre a acidificação do fagossomo poderia estar relacionada à
sinalização mediada pelos TLRs favorecendo a indução da expressão da SP-2. Sendo
assim, por microscopia, foi possível determinar que a sinalização mediada pelos
TLRs está relacionada à alteração do pH do fagossomo contendo a bactéria. Assim
que ocorre a internalização da salmonella pelos macrófagos do hospedeiro, uma
rápida sinalização mediada pelos TLRs em conjunto induz a diminuição do pH do
fagossomo o quê leva a bactéria a expressar o seu sistema de secreção do tipo
III. Por conseguinte, proteínas efetoras são liberadas no citosol da célula
hospedeira induzindo um fenótipo mais favorável para a replicação bacteriana
dentro do vacúolo contendo a salmonella.
Postado
por Sergio Costa Oliveira e Leonardo Augusto de Almeida.
Referência:
Arpaia N, Godec J, Lau L,
Sivick KE, McLaughlin LM, Jones MB, Dracheva T, Peterson SN, Monack DM, Barton
GM. Cell.
2011 Mar 4;144(5):675-8