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terça-feira, 12 de abril de 2011

Tolerância e memória na imunidade inata? O controverso papel das células NK


Grandes esforços têm sido feitos para se entender melhor os mecanismos envolvidos no processo de tolerância, uma vez que a perda da tolerância ao próprio está intimamente relacionado com o desenvolvimento de doenças autoimunes. A maior parte do conhecimento atual sobre o entendimento da tolerância imunológica é baseada nos mecanismos controlados pelos linfócitos T e B. Entretanto, novos insights sobre o papel da imunidade inata no controle da tolerância começam a ser mais profundamente elucidados. Um interessante artigo publicado na Science Signaling no início desse mês, demonstrou o importante papel das células Natural Killer (NK) no estabelecimento da tolerância controlada pela imunidade inata.

O grupo de pesquisa francês liderado pela Dra. Sophie Ugolini (Centre d’Immunologie de Marseille-Luminy) conduziu um estudo que detalhou os mecanismos que levam a tolerância de células NK quando essas células não são capazes de detectar o MHC de classe I próprio através dos receptores de inibição, bem como os mecanismos pelos quais a detecção do MHC de classe I próprio através dos receptores de inibição condiciona ou “ensina” as células NK a se tornarem competentes. Os autores analisaram se o confinamento das moléculas inibidoras Ly49 e as proteínas ativadoras NK1.1 variavam entre as células NK hiporresponsivas e competentes. Os pesquisadores demonstraram que o processo de tolerância independente de MHC classe I em camundongos é associado com a presença de células NK hiporresponsivas nas quais ambos receptores de ativação e inibição apresentavam-se confinados em uma malha de actina na membrana plasmática. Em contraste, o reconhecimento do MHC classe I próprio pelos receptores de inibição condicionaram células NK a se tornarem reativas, e os receptores de ativação das células NK se compartimentalizaram em nanodomínios de membrana plasmática. Os autores propuseram que o confinamento dos receptores de ativação na membrana plasmática é crucial para assegurar o processo de tolerância ao próprio pelas células NK.


Fonte: Guia et al. 2011 – Science Signaling – Confinement of activating receptors at the plasma membrane controls natural killer cell tolerance.

Células NK se lembram?

Células NK também tem sido foco de recentes estudos que estão mudando a noção de que a memória imunológica funcional é limitada apenas a imunidade adaptativa. O grupo da Dra. Sophie Ugolini também publicou na Science do mês de Janeiro uma interessante revisão sobre o papel controverso das células NK na geração de memória imunológica. Foi descrito que células NK tem a capacidade de alterar o seu comportamento baseado em uma ativação prévia, uma característica análoga à memória imunológica adaptativa. Contudo, algumas funções das células NK semelhantes à memória imunológica clássica não são estritamente derivadas de antígenos e podem ser observadas após a estimulação por citocinas. O artigo discute as recentes evidências de que células NK podem exibir propriedades de memória imunológica, focando na habilidade das citocinas induzirem de forma não específica esse tipo de memória em células NK, que podem aumentar sua resposta após a re-estimulação.


Fonte: Vivier et al. 2011 – Science – Innate or Adaptive Immunity? The Example of Natural Killer Cells

Além de levantar questionamentos e boas discussões sobre os paradigmas do que se acredita hoje na Imunologia, tais recentes descobertas sobre as novas funções de memória das células NK e seu papel na tolerância imunológica, irão também acrescentar muito ao melhor entendimento dos mecanismos de regulação da resposta imunológica e do reconhecimento do próprio e não-próprio.


Pra quem quiser ler mais a respeito do assunto, seguem abaixo alguns artigos:


Vivier E, Raulet DH, Moretta A, Caligiuri MA, Zitvogel L, Lanier LL, Yokoyama WM, Ugolini S 2011. Innate or Adaptive Immunity? The Example of Natural Killer Cells. Science 331: 44 - 49.

Guia S,Jaeger BN, Piatek S, Mailfert S,Trombik T,Fenis A,Chevrier N, Walzer T, Kerdiles YM, Marguet D, Vivier E, Ugolini S 2001. Confinement of Activating Receptors at the Plasma Membrane Controls Natural Killer Cell Tolerance. Science 4 (167): 1-12.

Biron CA 2010. More things in heaven and earth: defining innate and adaptive immunity. Nat Immunol. 11(12):1080-2.

Sun JC, Lopez-Verges S, Kim CC, DeRisi JL, Lanier LL 2011. NK cells and immune "memory". J Immunol. 186(4): 1891-7.

Cooper MA & Yokoyama WM 2010. Memory-like responses of natural killer cells. Immunol Rev. 235(1): 297-305.


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3 comentários:

  1. Kelly, seja bem vinda ao SBlogI!
    Parabéns pelo post.

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  2. Excelente post, visto que eu nunca pensava em Tolerância para as células NK e muito menos de citocinas envolvidas na memória imunológica de NK. Pensando que a NK esconde seus receptores quando elas são hiporesponsivas, isso seria realmente tolerância, já que não depende do MHC? Essas células elas ficam anérgicas mesmo, ou respondem um pouco? Será que patógenos podem intimidar a NK e faze-la a sumir com NK1.1?
    Acredito que a NK lembra mesmo, visto que essa célula na minha opinião é uma das mais espertas, uma vez percebe os detalhes, como por exemplo a ausência do MHC de clase I.

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